As metáforas na construção dos sentidos
uma análise da fala de Weintraub na reunião ministerial do governo Bolsonaro (em 22/04/2020)
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.3.1234-1271Palavras-chave:
Cognição, metáfora, argumentação, discurso político, governo BolsonaroResumo
Este trabalho, situado na interface dos estudos textuais com a Linguística Cognitiva, volta-se à reunião ministerial do governo Bolsonaro (Brasil) ocorrida no dia 22 de abril de 2020, focalizando a fala do então ministro da Educação, Abraham Weintraub. O objetivo geral desta investigação é: analisar como as metáforas contribuem para a construção de sentidos da fala de Abraham Weintraub. Já os objetivos específicos são: a) identificar, classificar e mapear as metáforas emergentes e b) analisar a relação entre as metáforas emergentes e a construção argumentativa do texto. De modo a alcançar os objetivos estabelecidos, as metáforas constantes no texto analisado foram identificadas (Dienstbach, 2018), classificadas em metáforas convencionais, metáforas conceptuais, metáforas situadas, novos desdobramentos metafóricos e nichos metafóricos (Lakoff; Johnson, 2002; Vereza, 2007; 2013), e foram também mapeadas (Kövecses, 2002). Entre as metáforas localizadas, destaca-se o aparecimento da metáfora: POLÍTICA É GUERRA/LUTA. Esta, quando contraposta à metáfora POLÍTICA É JOGO, dá origem ao desdobramento política é jogo, mas deve ser guerra/luta, posição central defendida pelo locutor. De modo a justificá-la, Weintraub destaca que a disputa que o grupo da reunião trava contra seus adversários está sendo perdida e estabelece alvos contra os quais devem atuar: Brasília e o Estado.
Referências
ABRUCIO, F. L.; GRIN, E. J.; FRANZESE, C.; SEGATTO, C. I.; COUTO, C. G. Combate à COVID-19 sob o federalismo bolsonarista: um caso de descoordenação intergovernamental. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 54, n. 4, p. 663-677, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-761220200354.
AMOSSY, R. O lugar da argumentação na Análise do discurso: abordagens e desafios contemporâneos. Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, n. 9, p. 121-146, 2007. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v0i9p121-146.
AMOSSY, R. Argumentação e Análise do discurso: perspectivas teóricas e recortes disciplinares. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, Ilhéus v. 1, n. 1, p. 129-144, 2011.
BENTES, A. C.; MORATO, E. M. Expressões de violência verbal e reflexividade face ao modelamento sociocognitivo e discursivo da pandemia de Covid-19. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 19, n. 1, p. 18-31, 2021. DOI: https://doi.org/10.4013/cld.2021.191.02.
BOLSONARO chama população às ruas no dia 15 e diz que ato não é contra o Congresso. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/politico-que-tem-medo-de-rua-nao-serve-para-ser-politico-diz-bolsonaro-sobre-dia-15.shtml>. Acesso em: 01 jun. 2023.
BRASIL. Serviço Público Federal. MJSP - Polícia Federal: DITEC - Instituto Nacional de Criminalística. Laudo nº 1242/2020 - INC/DITEC/PF: Laudo de Perícia Criminal Federal (Registros de Áudio e Imagens). Disponível em: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=443959&ori=1. Acesso em: 08 mar. 2021.
BRUGGER, W. Proibição ou proteção do discurso do ódio? Algumas ideias sobre o direito alemão e o americano. Direito Público, [S. l.], v. 4, n. 15, p. 117-136, 2007.
CAMERON, L.; DEIGNAN, A. The Emergence of Metaphor in Discourse. Applied Linguistics, Oxónia, v. 27, n. 4, p. 671-690, 2006. DOI: https://doi.org/10.1093/applin/aml032.
CAVALCANTE, M. M.; PINTO, R.; BRITO, M. A. P. Polêmica e Argumentação: interfaces possíveis em textos midiáticos de natureza política. Diacrítica, Braga, v. 32, n. 1, p. 5-24, 2018. DOI: https://doi.org/10.21814/diacritica.140.
CAVALCANTE, S. M. A condução neofascista da pandemia de Covid-19 no Brasil: da purificação da vida à normalização da morte. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 19, n. 1, p. 4-17, 2021. DOI: https://doi.org/10.4013/cld.2021.191.01.
DIENSTBACH, D. Por um analítico sistemático da metaforicidade no discurso. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 18, n. 2, p. 287-306, 2018. DOI: DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-180202-7917.
FERREIRA, L. L. G.; ANDRICOPULO, A. D. Medicamentos e tratamentos para a Covid-19. Estudos Avançados, São Paulo, v. 34, n. 100, p. 7-27, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.34100.002.
FREITAS, N. L. Regularidades linguísticas, pragmáticas e discursivas na interpretação de expressões metafóricas por indivíduos com Afasia e Doença de Alzheimer. 2019. 353 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.
GOVERNO Bolsonaro mais que dobra número de militares em cargos civis, aponta TCU. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/07/17/governo-bolsonaro-tem-6157-militares-em-cargos-civis-diz-tcu.ghtml>. Acesso em: 21 fev. 2021.
GRADY, J. E. Theories are buildings revisited. Cognitive Linguistics, [S. l.],, v. 8, n. 4, p. 267-290, 1997. DOI: https://doi.org/10.1515/cogl.1997.8.4.267.
KOCH, I. G. V. Referenciação e orientação argumentativa. In: KOCH, I. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. Referenciação e discurso. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2019a. p. 33-52.
KOCH, I. G. V. Especificidade do texto falado. In: JUBRAN, C. S. (Org.). A construção do texto falado. São Paulo: Contexto, 2019b. p. 39-46.
KÖVECSES, Z. What Is Metaphor?. In: KÖVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. New York: Oxford University Press, 2002. p. 03-13.
KÖVECSES, Z. Metaphor, language, and culture. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 26, p. 739-757, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-44502010000300017.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Campinas, SP: EDUC / Mercado das Letras, 2002.
MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE, M, M,; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Orgs.). Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 17-52.
MORATO, E. M. Linguística Textual e Cognição. In: SOUZA, Edson Rosa Francisco de; PENHAVAL, Eduardo; CINTRA, Marcos Rogério (Orgs.). Linguística Textual: interfaces e delimitações: homenagem a Ingedore Grünfeld Villaça Koch. São Paulo: Cortez, 2017. p. 394-430.
MORATO, E. M.; FREITAS, N. L. “A propósito da metáfora” (1975), de Luiz Antônio Marcuschi: apontamentos para uma perspectiva sociocognitiva e interacional da metaforicidade. Revista Investigações, Recife, v. 30, n. 2, p. 130-152, 2017. DOI: https://doi.org/10.51359/2175-294x.2017.231275.
MUSOLFF, A. Metaphor and political discourse: Analogical Reasoning in Debates about Europe. New York: Palgrave Macmillan, 2004.
PALUMBO, R. Referenciação, metáfora e argumentação no discurso presidencial. 2013. 272 f. - Tese (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa, São Paulo, 2013.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de Argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
RODRIGUES, T.; FERREIRA, D. Estratégias digitais dos populismos de esquerda e de direita: Brasil e Espanha em perspectiva comparada. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v. 59, n. 2, p. 1070-1086, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/01031813715921620200520.
SOARES DA SILVA, A.; LEITE, J. E. R. Apresentação - 35 anos de Teoria da Metáfora Conceptual: Fundamentos, problemas e novos rumos. Revista Investigações, rRecife, v. 28, n. 2, p. 1-23, 2015.
STF reconhece competência concorrente de estados, DF, municípios e União no combate à Covid-19. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=441447&ori=1>. Acesso em: 01 mar. 2021.
TOMÁS, R. N.; TOMÁS, L. M. N.; ANDREATTA, E. P. Da depravação ao desperdício de recursos: estratégias de desconstrução da universidade pública em redes de fake news. Verbum, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 141-167, 2020.
TORRES, M. Um balanço crítico dos primeiros 18 meses da política educacional do governo Bolsonaro. In: FARIA, F. G.; MARQUES, M. L. B (Orgs.). Giros à direita: Análises e perspectivas sobre o campo líbero-conservador. Sobral: Sertão Cult, 2020. p. 159-173.
VAN DIJK, T. A. Discurso e cognição na sociedade. Revista Portuguesa de Humanidades, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 19-52, 2015.
VEREZA, S. C. Metáfora e argumentação: uma abordagem cognitivo-discursiva. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 7, n. 3, p. 487-506, 2007.
VEREZA, S. C. O lócus da metáfora: linguagem, pensamento e discurso. Cadernos de Letras da UFF, Cidade, n. 41, p. 199-212, 2010.
VEREZA, S. C. “Metáfora é que nem…”: cognição e discurso na metáfora situada. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 38, n. 65, p. 2-21, 2013. DOI: https://doi.org/10.17058/signo.v38i65.4543.
VEREZA, S. C. Mal comparando…: os efeitos argumentativos da metáfora e da analogia numa perspectiva cognitivo-discursiva. Scripta, Belo Horizonte, v. 20, n. 40, p. 18-35, 2016. DOI: https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2016v20n40p18.
