Construções concessivas escalares
uma abordagem discursivo-funcional
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.3.1303-1343Palavras-chave:
conjunções concessivas, distinção léxico-gramática, Gramática Discursivo-FuncionalResumo
Este artigo propõe uma descrição, pautada no modelo teórico-metodológico da Gramática Discursivo-Funcional (Hengeveld; Mackenzie, 2008), de construções concessivas articuladas pelas conjunções complexas ainda que e mesmo que, com o objetivo de precisar o estatuto léxico-gramatical dessas conjunções e de mapear as diferentes relações concessivas por elas instauradas. Para tanto, conta-se, como material de análise, com ocorrências do português contemporâneo, coletadas a partir do Córpus do Português (Davies; Ferreira, 2006). Defende-se que subjaz, ao uso de construções concessivas com ainda que e mesmo que, uma associação entre concessividade e escalaridade (König, 1985a; 1985b), o que permite atestar o estatuto intermediário (em termos de contínuo léxico-gramatical) dessas conjunções. Esses resultados demandam, em termos de representação conforme o modelo da GDF, duas questões: (i) representações multinivelares dessas construções alinhando distinções próprias aos dois níveis da formulação, Interpessoal e Representacional, e chegando aos impactos na codificação no Nível Morfossintático, e (ii) a distinção de um novo tipo de primitivo morfossintático, o padrão conjuncional semifixo.
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