O político dos corpos no longa-metragem 120 batimentos por minuto

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17851/2237-2083.33.3.132-151

Palavras-chave:

análise do discurso, cinema, ativismo social, político dos corpos

Resumo

Derivado de uma tese de doutorado filiada à Análise do Discurso materialista, este artigo propõe a formulação conceitual de político dos corpos, com o objetivo central de compreender como a heterogeneidade discursiva atravessa os corpos de sujeitos integrantes da associação de ativismo social ACT UP Paris, relacionada à epidemia de HIV/Aids, a partir do retrato ficcional presente no longa-metragem 120 batimentos por minuto (2017), de Robin Campillo. O conceito é desenvolvido no batimento com o objeto analítico, os corpos enquanto materialidades discursivas dos sujeitos-ativistas, frente à tensão estabelecida entre a heterogeneidade discursiva que sempre se marca nas reuniões internas e o efeito de consenso produzido durante protestos em espaços públicos e privados, no início da década de 1990. No trajeto teórico-analítico, observa-se que o político, entendido discursivamente como a divisão inexorável dos sentidos no social, marca-se de forma contínua nos/pelos corpos dos sujeitos-ativistas durante as reuniões, provocando e/ou retroalimentando conflitos dentro da associação e, por conseguinte, problematizando o efeito de consenso com que se revestem durante os protestos. Desse modo, conclui-se que os corpos dos sujeitos-ativistas, sendo discursivos, são constitutiva e invariavelmente atravessados pelo político, delineando o funcionamento do político dos corpos.

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Publicado

2025-09-09

Como Citar

O político dos corpos no longa-metragem 120 batimentos por minuto. Revista de Estudos da Linguagem, [S. l.], v. 33, n. 3, p. 132–151, 2025. DOI: 10.17851/2237-2083.33.3.132-151. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/relin/article/view/61411. Acesso em: 24 dez. 2025.