A propósito da indignação
a negociação das distâncias em comentários sobre um crime de feminicídio
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.29.4.2463-2483Palavras-chave:
retórica, argumentação, emoções, indignação, feminicídioResumo
Como observa Alexandre Júnior (1998), no prefácio da Retórica, houve uma explosão dos estudos retóricos nas últimas décadas. Nesse sentido, muitos estudiosos do discurso têm voltado seus olhares para as questões de retórica, muitas vezes seguindo os passos de Aristóteles, que a define como a arte da persuasão, além de observar que se trata da contraparte da dialética, hoje entendida como argumentação. Em 2007, Meyer, para quem a retórica é a negociação das diferenças entre indivíduos, recupera a clássica oposição aristotélica, pontuando que não é possível privilegiar retórica ou dialética. Em vez disso, é preciso buscar caminhos para unificá-las, evidenciando que ambas, na verdade, fazem parte de uma mesma disciplina. Aristóteles argumenta que o orador atinge seu objetivo, ou seja, alcança a persuasão, quando se vale da virtude, da prudência e da benevolência. Esses elementos têm relação com as emoções, definidas por ele como “causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem mudanças nos seus juízos, na medida em que comportam dor e prazer” (ARISTÓTELES, 1998, p. 106). Apesar de Aristóteles evidenciar o lugar das emoções no discurso, alguns estudos modernos tendem a negligenciar o domínio do pathos. Desse modo, discutiremos o papel da emoção, especialmente da indignação, na negociação das distâncias em comentários sobre um crime de feminicídio, uma vez que estes são terras férteis para a expressão de diversas emoções. Pretendemos, neste trabalho, verificar em que medida a indignação constitui-se como estratégia argumentativa, aproximando ou afastando ainda mais os sujeitos que participam das trocas simbólicas em redes sociais.