Sujeitos e objetos nulos em português brasileiro
correlações e mudança
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.30.4.1831-1854Palavras-chave:
mudança, sujeito nulo, sujeito pronominal, objeto direto anafórico, português brasileiroResumo
Sujeitos pronominais e nulos e objetos diretos anafóricos estão entre os principais fenômenos gramaticais que diferenciam as variedades do português brasileiro e europeu (cf. CYRINO; MATOS, 2016; DUARTE; FIGUEIREDO SILVA, 2016). No português brasileiro (PB), as orações com sujeitos pronominais referenciais são preferidas em detrimento das orações com sujeitos nulos – que são restritas a alguns contextos (cf. AYRES, 2021, DUARTE; REIS, 2018); por outro lado, orações com objetos diretos anafóricos nulos, especialmente objetos diretos de 3ª pessoa, são preferíveis a orações com objeto direto pronominal (cf. CYRINO, 1993, 1997). A literatura que relaciona ambos os fenômenos na história do PB mostra que houve uma mudança na seguinte direção: objetos nulos e sujeitos pronominais tiveram uma frequência crescente ao longo dos últimos séculos. Aqui defendemos uma relação ligando ambos os fenômenos no PB: ambos são sensíveis ao gênero semântico do referente quando se trata de realização de pronome de 3ª pessoa. Apoiamos tal hipótese trazendo dados de nossos trabalhos anteriores e de trabalhos de colegas. Também defendemos uma diferença crucial entre os dois fenômenos: embora objetos nulos estejam estabilizados na gramática do PB, apresentamos dados empíricos que mostram evidências de mudança no tempo aparente em sujeitos pronominais de 3ª pessoa. Coletamos e analisamos dados de um corpus oral contemporâneo (LínguaPOA) e aqui mostramos que (i) não existe mais a assimetria entre sujeitos de 1ª e 2ª pessoa (por um lado) e sujeitos de 3ª pessoa (por outro); (ii) sujeitos nulos de 1ª e 2ª pessoa são fenômenos estabilizados; e (iii) sujeitos nulos de 3ª pessoa ainda estão em processo de mudança.