Uma análise psico e sociolinguística das propriedades dimensionais das palavras tabu no português carioca
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.2.809-860Palavras-chave:
palavras tabu, psicolinguística, sociolinguística, percepção, emoçãoResumo
Palavras tabu são palavras emocionais, que, em tarefas psico e neurolinguísticas, apresentam maior captura atencional, são mais memoráveis e complexas de processar. Esses fenômenos estão ligados a dimensões como alerta e valência, que refletem aspectos sociais, psicológicos e neurológicos. O presente estudo, inédito no português brasileiro, visa normatizar o que diferencia o processamento de palavras tabu de outras palavras emocionais no que se refere às dimensões afetivas. O estudo se articula com a sociolinguística ao mapear as atitudes linguísticas em relação a palavras tabu, que configuram marcadores estilísticos salientes, sujeitos a julgamentos negativos, engajando o monitor sociolinguístico. Objetiva-se entender como aspectos como gênero, religiosidade, costume de uso, tolerância a palavrão na família e propensão à ofensa, possíveis constituintes das crenças e atitudes linguísticas, modulam a percepção dessas palavras. De 164 universitários cariocas, comparamos medidas de um questionário explícito sobre palavrão, com julgamentos, menos explícitos, numa escala Likert, sobre 200 palavras individualmente, para examinar: (i) como palavras tabu são caracterizadas quanto a frequência, familiaridade, ofensividade, nível de tabu, alerta e valência comparadas a outras categorias (palavras positivas, negativas e neutras); (ii) a influência de índices do perfil sociocultural dos participantes sobre esses julgamentos para inferir como esses modulam efeitos de monitoramento. Observamos que as palavras tabu se destacaram principalmente pelos julgamentos de tabu social e ofensividade, mas também pela menor familiaridade e valência. Esses resultados confirmam atitudes linguísticas negativas sobre palavras tabu, com percepções influenciadas por religiosidade, ambiente familiar e gênero, relevantes para o entendimento da identidade linguística desse grupo de falantes.