Pistas da consciência sociolinguística no uso de palavrões em uma obra literária
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.2.861-904Palavras-chave:
sociolinguística, texto literário, monitoramento linguísticoResumo
Os palavrões são marcas linguísticas alvo de forte estigma social. Os falantes monitoram seus usos linguísticos a depender de seu interlocutor (BELL, 1984), e observando o monitoramento linguístico de um mesmo falante em duas situações distintas, podemos acessar a sua consciência sociolinguística. Este estudo é de natureza qualitativa e quantitativa e observa o uso de palavrões para construir as personas sociais em duas versões de uma mesma obra. Comparamos a frequência de palavrões em uma versão manuscrita e na versão publicada de Feijão de Cego, de Vladimir Carvalho, e analisamos os comentários metalinguísticos presentes nas falas das personagens. Os resultados evidenciam a consciência sociolinguística do autor, que retrata, nos diálogos de suas personagens, juízos valorativos de estigma acerca do uso de palavrões. Já o monitoramento linguístico se destaca através da significativa diminuição e/ou retirada de palavrões na versão publicada da obra, substituindo-os por lexias menos estigmatizadas. Com isso, constatamos que os efeitos de monitoramento linguístico são passíveis de observação não só em corpora orais, mas também no texto literário, onde há a busca por uma polidez linguística, de modo a aproximar-se de seu interlocutor (o público leitor).