Pós-fordismo, TICs e tecnolinguagem
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.32.1.8-27Palavras-chave:
tecnolinguagem, TICs, pós-fordismo, significaçãoResumo
Este artigo busca sistematizar uma reflexão sobre formas pelas quais transformações imbricadas na passagem do fordismo-taylorismo para o pós-fordismo se associam ao desenvolvimento de processosde interação e práticas linguísticas em que traços como tecnologização, virtualização e des-referencialização se apresentam como elementos constitutivos. Tendo como referência de fundo a concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin, a argumentação mobiliza contribuições teóricas e analíticas que incidem sobre as formas de organização assumidas pelo capitalismo pós-industrial, entre elas as de Harvey (2010) e Castells (2002), com as quais procura articular abordagens voltadas para o papel da linguagem na configuração da sociedade pós-fordista, em particular as de Lazzarato (2014), Berardi (2020) e Virno (2014). O corpus do artigo consiste de recortes de enunciados colhidos em processos
de interação observados em plataformas e aplicativos online diversos. Entre as conclusões a que a argumentação desenvolvida no artigo conduz pode ser indicada a ideia de que a proeminência das tecnologias de informação e comunicação ensejada pelo sistema de produção e regulação social pós-fordista tem como um de seus efeitos a constituição de uma tecnolinguagem que, inscrita em diferentes práticas linguístico-discursivas, é caracterizada, entre outras coisas, pela hibridização de elementos reais e virtuais, naturais e artificiais, humanos e maquínicos.
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