v. 4 n. 2 (2023): Dossiê - Corporeidades e subjetividades queer (jul/dez 2023)
Dossiê especial

Da “testo” ao texto: a escrita química de Paul B. Preciado e a potência do termo transidentidade

Alinne Nogueira Silva Coppus
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil
Biografia
Lorena Loures
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Biografia

Publicado 12-03-2024

Palavras-chave

  • transidentidade,
  • escrita,
  • corpo,
  • psicanálise

Como Citar

COPPUS, A. N. S.; LOURES, L. Da “testo” ao texto: a escrita química de Paul B. Preciado e a potência do termo transidentidade. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 4, n. 2, p. e48625, 2024. DOI: 10.53981/destroos.v4i2.48625. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/48625. Acesso em: 26 jul. 2024.

Resumo

As dissidências de gênero materializam uma subversão pós-moderna dos termos da identidade e da identificação, as quais ganham uma conotação simbólica dado o lugar fulcral do identitarismo no laço contemporâneo, devendo ser lidas como formas autênticas de conhecimento. O objetivo deste artigo é problematizar a concepção do eu em psicanálise a partir do que aprendemos com as transidentidades. Para tanto, 1) faz-se uma leitura da identidade à guisa da descrição freudiana do eu e de sua releitura lacaniana; 2) aborda-se a escrita química de Preciado, bem como o caráter simbólico de seus usos do corpo e da testosterona no laço contemporâneo; 3) diferencia-se transgeneridade e transidentidade, defendendo-se o uso do segundo termo. O referencial teórico deste artigo, que resulta de um levantamento e análise bibliográficos partindo do binômio corpo e transidentidade, é a teoria psicanalítica que afirma o eu como projeção de superfície e a experiência de Preciado em Testo Junkie. Consideramos o descompasso estrutural entre corpo e imagem enquanto oportunidade de modelagem de novos significados e apropriações do corpo, partindo da singularidade dos processos identificatórios e para além da fixação derradeira em uma identidade, tal como nos demonstra o filósofo. Por fim, sustentamos o legado ético do psicanalista no testemunho das novas montagens corporais.

 

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