v. 6 n. 1 (2025): Limiares destituintes: política, direito, teologia e linguagem (jan/jun 2025)
Dossiê especial

Uma teologia qualquer: a libertação e o problema dos “sujeitos históricos”

Daniel Santos Souza
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Biografia

Publicado 12-05-2025

Palavras-chave

  • Giorgio Agamben,
  • Teologia da libertação,
  • Marcella Althaus-Reid,
  • Ivone Gebara,
  • Teologia política,
  • Filosofia política
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Como Citar

SOUZA, Daniel Santos. Uma teologia qualquer: a libertação e o problema dos “sujeitos históricos”. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. e56507, 2025. DOI: 10.53981/destrocos.v6i1.56507. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/56507. Acesso em: 25 dez. 2025.

Resumo

Este artigo problematiza, desde um campo de estudo que articula filosofia e teologia política, o imaginário programático de uma Teologia da Libertação (TdL) hegemônica. As TdL tomam o compromisso práxico na concretude do reinado de Deus como algo fundamental, em uma crítica aos modelos de sociedade em que estamos inseridos, construídos como uma “civilização da pobreza”. Nesse exercício, teólogas e teólogos se depararam com a “emergência de novos sujeitos teológicos” relacionados com “novos projetos históricos”. Em uma metodologia que parte de análises bibliográficas, esse texto sintetiza a ideia de “qualquer”, presente no livro A comunidade que vem (2001), de Giorgio Agamben. A partir disso, há um diálogo direto com Ivone Gebara e Marcella Althaus-Reid, teólogas que colocaram em suspeita os percursos majoritários da TdL. Junto a elas, a abordagem aqui realizada também assume, numa espécie de linha articuladora, as reflexões de Colby Dickinson, importante leitor desse filósofo italiano na sua relação com a teologia. Como principais conclusões, esse texto evita uma adaptação e absorção no “núcleo duro” de um fazer teológico centrado em um “paradigma político soberano-transcendente”. Assim, a forma-de-vida “qualquer” não nos empurra para uma nova identidade como um outro “sujeito histórico” primordial. Desse modo, o ser "qualunque" desafia uma teologia em seus acoplamentos de diferença à identidade primordial esperada e inventada na categoria “pobre”.

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