Aborrecimento e inoperosidade: uma greve involuntária contra os imperativos da época

Resumo

Este artigo parte de uma análise do uso que Giorgio Agamben faz da noção de “tédio” do ponto de vista de Heidegger e Benjamin, no âmbito de sua filosofia da inoperosidade. Primeiro, é analisada a interpretação do conceito de “tédio profundo” de Heidegger em L'Aperto e L'uso dei corpi. Da perspectiva de uma interpretação mais ampla do conceito de “tonalidade emocional” (Stimmung) em suas primeiras obras, mostra-se que Agamben interpreta criticamente o tédio como uma tonalidade emotiva fundamental, como a última tentativa radical, mas ainda “metafísica”, de fazer uma “máquina antropológica” funcionar. Nesse sentido, o tédio ofereceria um modelo suspensivo para se pensar uma vida humana sem conteúdo, mas ainda sugestivamente “lançada” em uma “tarefa” que não consegue resolver certa biologização “afetiva” da realização do humano. Em segundo lugar, estudamos as menções à figura do tédio (Langeweile, ennui) que se referem ao pensamento de Walter Benjamin. Embora Agamben não compare explicitamente os conceitos de tédio em Heidegger e Benjamin, sua contraposição permite iluminar dois modelos “suspensivos” diferentes, próximos e opostos, que operam na filosofia da inoperosidade. Por fim, propõe-se definir o potencial crítico de uma filosofia agambeneana do tédio como uma figura da “greve involuntária” contra os imperativos da própria época.