v. 6 n. 2 (2025): Animais políticos: animalidade, comunidade e o futuro do corpo político (publicação contínua)
Dossiê especial

Devir caranguejo: do homem enfiado na lama à cambada antenada

Ana Rackel de Paula Quintas
Universidade de Pernambuco
Biografia
Patricia Oliveira Lira
Universidade de Pernambuco
Biografia

Publicado 20-08-2025

Palavras-chave

  • Homem-caranguejo,
  • urbanização,
  • movimento Manguebit,
  • devir

Como Citar

QUINTAS, Ana Rackel de Paula; LIRA, Patricia Oliveira. Devir caranguejo: do homem enfiado na lama à cambada antenada. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. e58397, 2025. DOI: 10.53981/destrocos.v6i2.58397. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/58397. Acesso em: 24 dez. 2025.

Resumo

As aproximações conceituais entre o caranguejo e as populações que viviam nas margens do manguezal da cidade do Recife foram apontadas por Josué de Castro (1960), ganhando destaque em seu romance “Homens e Caranguejos”, onde o autor lança mão de uma escrita poética e autobiográfica sobre o menino João Paulo para evidenciar as questões sócio geográficas que ganhavam força com a modernização da capital pernambucana, destacando o modo como as populações ribeirinhas eram aterradas pela fome e miséria enquanto a cidade se expandia. Mais adiante, em meados da década de 1990, o movimento manguebit retorna a Josué de Castro e produz uma ruptura da noção do caranguejo destinado à morte. Este artigo busca discutir o deslocamento da denúncia necessária de Josué de Castro, com o homem-caranguejo fadado à miséria e à morte, para a posição do mangueboy de Chico Science cujo ímpeto insurgente produz uma outra experiência de cidade. Para analisar esse processo, partimos do conceito de devir em Gilles Deleuze e Félix Guattari para situar o caráter ético-estético-político do movimento mangue enquanto intensificador da potência das margens no litoral pernambucano.

 

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

  1. ACERVO Chico Science. [S. l.], 2023. Disponível em: https://acervochicoscience.com.br/. Acesso em: 21 jul. 2024.
  2. ANDRADE, Isabella Puente de. “Filhos da lama e irmãos de leite dos caranguejos”: as relações humanas com o manguezal no Recife (1930-1950). 2019. 173f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Recife, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/38002/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20Isabella%20Puente%20de%20Andrade.pdf. Acesso em: 10 jun. 2025.
  3. ANDRADE, Manuel Correia de. Josué de Castro: o homem, o cientista e seu tempo. Estudos Avançados, São Paulo, v. 11, n. 29, pp. 169-194, 1997. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40141997000100009
  4. ANTENE-SE. Intérpretes e compositores: Chico Science & Nação Zumbi. In: DA LAMA ao caos. Intérpretes: Chico Science & Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Nas Nuvens, 1994. 1 CD, faixa 10.
  5. BARROS, Laura Pozzana; KASTRUP, Virgínia. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção. Porto Alegre: Sulina, 2009. pp. 52-75.
  6. BRITO, Maria dos Remédios de; CHAVES, Silvia Nogueira. … Cartografia… uma política de escrita. Rev. Polis e Psique, v. 7, n. 1, pp. 167-180, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/PolisePsique/article/view/72078/pdf_1. Acesso em: 19 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152X.72078
  7. CARNEIRO, Altair de Souza. Deleuze & Guattari: uma ética dos devires. 2019. 115p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Toledo, Centro de Ciências Humanas e Sociais, Toledo, 2013. Disponível em: https://tede.unioeste.br/bitstream/tede/2046/1/Altair_Carneiro_2013.pdf. Acesso em: 19 jun. 2025.
  8. CASTRO, Josué de. Homens e caranguejos. Rio de Janeiro: Record, 2001.
  9. CHICO SCIENCE fala sobre Josué de Castro e sua influência. [S. l.: s. n.], 22 mar. 2020. 1 vídeo (7 min 46 s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_g0wCCQnaSg. Acesso em: 22 fev. 2025.
  10. COCO Dub (Afrociberdelia). Intérpretes e compositores: Chico Science & Nação Zumbi. In: DA LAMA ao caos. Intérpretes: Chico Science & Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Nas Nuvens, 1994. 1 CD, faixa 14.
  11. CORPO de Lama. Intérprete e compositor: Nação Zumbi. In: AFROCIBERDELIA. Intérpretes: Nação Zumbi. São Paulo: Chaos/Sony Music, 1996. 1 CD, faixa 10.
  12. DA LAMA ao caos. Intérpretes e compositores: Chico Science & Nação Zumbi. In: DA LAMA ao caos. Intérpretes: Chico Science & Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Nas Nuvens, 1994. 1 CD, faixa 7.
  13. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Trad. Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: 34, 2000. v. 1.
  14. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro: 34, 1997. v. 2.
  15. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Trad. Suely Rolnik. Rio de Janeiro: 34, 1997. v. 4. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93131998000200008
  16. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Trad. Peter Pál Pelbart e Janice Caiafa. Rio de Janeiro: 34, 1997. v. 5.
  17. DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Trad. Roberto Machado e Luiz Orlandi. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
  18. DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.
  19. DELEUZE, Gilles. O ato de criação. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: https://lapea.furg.br/images/stories/Oficina_de_video/o%20ato%20de%20criao%20-%20gilles%20deleuze.pdf. Acesso em: 22 fev. 2025.
  20. GODOY, P. (Org.). História do pensamento geográfico e epistemologia em geografia. São Paulo: Unesp; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. DOI: https://doi.org/10.7476/9788579831270
  21. GUATTARI. Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: 34, 1992.
  22. HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
  23. HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. pp. 103-133.
  24. INSTITUTO TRATA BRASIL. Ranking do saneamento 2022. São Paulo, 1 abr. 2022. Disponível em: https://tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-2022/. Acesso em: 21 fev. 2025.
  25. LEVIN, Kelly; BOEHM, Sophie; CARTER, Rebecca. Impacto das mudanças climáticas: 6 descobertas do relatório do IPCC de 2022 sobre adaptação. In: WRI Brasil, São Paulo; Porto Alegre, 03 mar. 2022. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/noticias/impacto-das-mudancas-climaticas-6-descobertas-do-relatorio-do-ipcc-de-2022-sobre-adaptacao. Acesso em: 21 fev. 2025.
  26. LIRA, Patrícia Oliveira; MARCOS, Yasmin Janaína Ferreira. A subjetividade a partir da reflexão filosófica de Deleuze e Guattari. Perspectiva Filosófica., Recife, v. 45, n. 2, pp. 8-24, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/perspectivafilosofica/article/view/246559. Acesso em: 14 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.51359/2357-9986.2018.246559
  27. LIRA, Patrícia Oliveira. O apelo estético da Cartografia. In: CARVALHO, Mário de Faria; BRACCHI, Daniela Nery; PAIVA, André Luiz dos S (Org.). Estéticas Dissidentes em Educação. São Paulo: Pimenta Cultural, 2022. pp. 329-348. Disponível em: https://www.pimentacultural.com/livro/esteticas-dissidentes/. Acesso em: 15 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.31560/pimentacultural/2022.95163.17
  28. MAURÍCIO, Eduardo; MANGUEIRA, Maurício. Imagens do pensamento em Gilles Deleuze: representação e criação. Fractal: revista de psicologia, v. 23, n. 2, pp. 291-304, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1984-02922011000200005
  29. MELO FILHO, Djalma Agripino. Mangue, homens e caranguejos em Josué de Castro: Significados e ressonâncias. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, pp. 505-524, 2003. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-59702003000200002
  30. MONÓLOGO ao pé do ouvido. Intérpretes e compositores: Chico Science & Nação Zumbi. In: DA LAMA ao caos. Intérpretes: Chico Science & Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Nas Nuvens, 1994. 1 CD, faixa 1.
  31. MORAES, Renata P. S. “O mal do mocambo”: o discurso de Agamenon Magalhães e a busca pela moral e cidadania no Recife (1937-1945). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 27, 2013, Natal. Anais [...]. Natal: ANPUH, 2013. pp. 1-16.
  32. OLIVEIRA JUNIOR, Homero Pereira de; HUR, Domenico Uhng. Cartografias do movimento mangue: antropofagia e a pragmática do sample. Linha Mestra, Rio de Janeiro, v. 18, n. 52, pp. 387-404, jan./abr. 2024. Disponível em: https://www.lm.alb.org.br/index.php/lm/article/view/1471/1237 . Acesso em: 15 jun. 2025.
  33. OLIVEIRA JUNIOR, Homero Pereira de; HUR, Domenico Uhng. Mangue: um rizoma superior?. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. e51947, jan./jun. 2024. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/51947/45613. Acesso em: 15 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.53981/destroos.v5i1.51947
  34. PASSOS, Eduardo; BARROS, Regina Benevides de. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção. Porto Alegre: Sulina, 2009. pp. 150-171.
  35. PASSOS, Paula. O cinema intermidiático. Revista continente, Recife, 3 jan. 2020. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/230/o-cinema-intermidiatico. Acesso em: 21 jul. 2024.
  36. PONTUAL, Virgínia. Tempos do Recife: representações culturais e configurações urbanas. Revista brasileira de história, São Paulo, v. 21, n. 42, pp. 417-434, 2001. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882001000300008
  37. RIOS, pontes e overdrives. Intérpretes e compositores: Chico Science & Nação Zumbi. In: DA LAMA ao caos. Intérpretes: Chico Science & Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Nas Nuvens, 1994. 1 CD, faixa 2.
  38. ROLNIK, Suely; GUATTARI, Félix. Micropolítica: cartografias do desejo. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
  39. ROSA, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
  40. SANTOS, Marlene Alves. A Diferença e a Repetição em Educação. Caderno de publicações Univag: educação, filosofia e saúde, n. 6, 2012. Disponível em: https://www.periodicos.univag.com.br/index.php/caderno/article/view/312/552. Acesso em: 18 jun. 2025.
  41. SILVA, Franklin Leopoldo e. Deleuze: filosofia da diferença. [S. l.: s. n.], 28 fev. 2017. 1 vídeo (7 min 46 s). Publicado pelo canal Casa do Saber. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6Her0PEsMao. Acesso em: 21 fev. 2025.
  42. SILVA, Franklin Leopoldo e. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2004.
  43. SPOSITO, Marilia Pontes; ALMEIDA, Elmir de; CORROCHANO, Maria Carla. Jovens em movimento: mapas plurais, conexões e tendências na configuração das práticas. Revista Educação e Sociedade, v. 41, e228732, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/ES.228732. Acesso em: 19 jun. 2025. DOI: https://doi.org/10.1590/es.228732
  44. VAN GOGH, Vincent. Crustacean, lying on his back (Van Gogh museum photograph). Wikipédia: [S. l.], 2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Crustacean,_lying_on_his_back_by_Vincent_van_Gogh_%28Van_Gogh_museum_photograph%29.jpg. Acesso em: 22 fev. 2025.
  45. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. pp. 7-72.
  46. ZERO QUATRO, Fred. Manifesto caranguejos com cérebro. 1992. Disponível em: https://docente.ifrn.edu.br/marcelmatias/Disciplinas/orientacoes/caranguejo-com-cerebro-e-quanto-vale-uma-vida. Acesso em: 21 fev. 2025.