[Chamada para (in)submissões] Dossiê #1 - Pandemios Politiké: pensamento radical em quarentena? (2020)

29-03-2021

Recebimento de trabalhos no formato de artigos científicos, ensaios, textos literários e imagens que reflitam sobre a temática, até o dia 31 de outubro de 2020.

As contribuições devem ser enviadas pelo e-mail da revista (revistadestrocos@gmail.com), levando em consideração todas as regras de submissão e formatação informadas em Menu>Sobre>Submissões. O prazo para envio é 31 de outubro de 2020.

Em um tempo marcado pela estabilização da exceção e a conversão dos espaços urbanos, rurais, reservas ambientais, territórios indígenas e quilombolas em campos – nos quais a vida é confrontada pelo poder sem qualquer estrutura de mediação – esta chamada se volta à coleção de trabalhos contemporâneos, que estabeleçam com seu tempo uma relação de inatualidade, seja para perceber a maneira como marcos tidos como “conquistas civilizatórias” se apresentam como bloqueios ao tempo por vir, e/ou a potência de nele se enxergar não só a sua obscuridade intrínseca, mas também suas luzes, que se apresentam a nós sob a forma de estilhaços revolucionários do tempo-de-agora, dos quais nos cabe fazer citação – no sentido benjaminiano de atualização – caso estejamos interessados em promover a instauração de um verdadeiro estado de exceção, como na Tese VIII de Benjamin . 

Marx escreveu, há mais de um século, que a situação desesperadora da época na qual vivia lhe enchia de esperança. Esta afirmação foi repetida em diferentes contextos por Debord e Agamben, e aqui nos apropriamos desta hipótese, que parece nos sugerir que onde cresce o perigo, cresce também a possibilidade de salvação. A pandemia planetária resultante da disseminação da COVID-19 é um evento incontrolável, cujos efeitos e consequências ainda estão sendo gradativamente desvelados. Contudo, já podemos perceber a maneira como ela acentua e evidencia o caráter necropolítico do nosso presente ao mesmo tempo em que abre possibilidades para o novo por meio da destituição (e também da desinstituição): a competição pode ceder lugar à cooperação, práticas predatórias podem ser suplantadas por gestos de solidariedade e o individualismo neoliberal pode ser implodido pela força do comum e da partilha. São disputas assim que estão em questão no jogo conceitual da nossa PANDEMIOS POLITIKÉ, que dá nome a este dossiê, na medida em que o cenário atual nos revela uma potência capaz de operar uma transmutação da política sobre a vida, na qual estamos desde sempre inseridos, para uma política da vida.   

Essa dimensão da aposta é conhecida pelo pensamento radical, que assume seus riscos, se desprendendo das garantias violentas das estruturas tradicionais do poder separado e da soberania para recusar o futuro posto e determinado em que teríamos ancorado com o “fim da história”, dissolvendo assim as amarras da ideologia do progresso. Como ruptura, a aposta do pensamento radical é abertura de caminhos em meio às ruínas do pensamento conservador e das teorias tradicionais do direito e do Estado. Trata-se então de um pensamento desobediente que percebe a potência do abjeto, do (obs)ceno e do que está à margem no desafio político de construção comum de comunidades que vêm, indeterminadas, mutantes e sempre dispostas a enfrentar a imensidão do ato revolucionário. 

Esta chamada da (Des)troços, tal como a filosofia radical, pretende constituir-se enquanto um anticampo que, como tal, busca promover rupturas temporais e espaciais, de modo que porções do futuro incrustadas no presente se tornem efetivas por meio de vivências utópicas que a todo o tempo tensionam o constituído e suas estruturas árquicas nômicas que separam, dividem e excluem. Convidamos assim todxs xs interessadxs que resistem e se recusam a aquiescer com o a ideologia do progresso, com o estado de exceção tornado regra e com o caráter espetacular de nossa temporalidade, para que possamos, juntxs, experimentando e vivenciando a filosofia radical, somarmos esforços para a construção multitudinária de um tempo próprio e kairótico, com vistas a presentificar e produzir um porvir radicalmente democrático, mediante o encontro entre práxis e teoria.