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Engrenagens psi-jurídicas na conformação do inimigo patologizado: o caso Cracolândia

Danilo Pescarmona
Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, Brasil
Biografia

Publicado 17-04-2022

Palavras-chave

  • estado de exceção,
  • militarização,
  • anormalidade,
  • biopolítica

Como Citar

PESCARMONA, D. Engrenagens psi-jurídicas na conformação do inimigo patologizado: o caso Cracolândia. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 2, n. 2, p. 221–241, 2022. DOI: 10.53981/destroos.v2i2.36397. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/36397. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

O presente artigo se propõe a discutir a região conhecida como Cracolândia enquanto um laboratório de experimentações da ação política no contemporâneo. Adotamos essa definição na medida em que nesse território é testada uma série de práticas voltadas à militarização da vida e que será experimentada em outras territorialidades sob a forma de repressão e controle de corpos, bem como ao aprimoramento das práticas de exceção. Paralelamente, utilizaremos a genealogia foucaultiana para demonstrar como o conceito de anormal, entendido como o inimigo patologizado, é preenchido pelo usuário de crack – uma subjetividade reduzida à sua condição patológica de dependente químico que perdeu sua racionalidade em função do uso compulsivo da substância –, e sobre o qual incidirá às medidas autoritárias em função do risco que representa. Com essa discussão, pretendemos demonstrar que elementos de exceção convivem no interior da democracia e fundam as características da violência na sociabilidade brasileira.

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