Águas ancestrais

cultura material, noção de transformação e xamanismo nas estearias, Amazônia brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31239/vtg.v17i2.41526

Palavras-chave:

novos materiais, palafitas, xamanismo, etnografia, mestre dos animais, arqueologia pública

Resumo

Este trabalho tem como objetivo dscutir as teorias das novas materialidades ao estudo da cultura material na estearia do Formoso, uma aldeia de palafitas pré-colonial dos séculos IX-X d.C., localizada na Baixada Maranhense, Amazônia oriental. Os apliques dos vasos cerâmicos deste sítio arqueológico apresentam diversos dados cosmológicos sobre a transformação ou metamorfose dos corpos, aspectos que são férteis para a discussão do xamanismo nas terras baixas da América do Sul, especialmente na Amazônia. São utilizados conceitos clássicos da etnografia antropológica aplicada à Arqueologia, contribuindo para a discussão sobre a diversidade de formas de fabricação do corpo na Amazônia em sua porção mais oriental, como a do Mestre dos Animais, entidade sobrenatural metamorfoseada pelo xamã e que também pode ter feito parte da cosmologia dos povos dos lagos do Maranhão.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Ab’sáber, A. N. (2006). Brasil: paisagens de exceção: o litoral e o pantanal matogrossense: patrimônios básicos. São Paulo: Ateliê Editorial.

Alberti, B. (2013). Archaeology and Ontologies of Scale: The Case of Miniaturization in First Millennium Northwest Argentina. In Alberti, B.; Jones, A. M. & Pollard, J. (Eds.). Archaeology after Interpretation: Returning Materials to Archaeological Theory (p. 43-58). Walnut Creek: Left Cost Press.

Alberti, B.; MarshalL, Y. (2009). Animating Archaeology: Local Theories and Conceptually Open-Ended Methodologies. Cambridge Archaeological Journal, 16 (3): 345-357.

Anchieta, Pe. José de. Carta de São Vicente. (1997) [1560]. Caderno 7. Série de Documentos Históricos. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Série Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Arnold, D. E. (1985). Ceramic Theory and Cultural Process. Cambridge: Cambridge University Press.

Arnold, Expedito. (1996). O sobrenatural e a influência cristã entre os índios do Rio Uaça (Oiapoque, Amapá): Palikúr, Galibí e Karipúna. In Langdon, Esther Jean M. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas (p. 297-331). Florianópolis: Editora da UFSC.

Barcelos Neto, Aristóteles. (2011). A serpente de corpo repleto de canções: um tema amazônico sobre a arte do trançado. Revista de Antropologia, 54 (2): 981-1012.

Carneiro da Cunha, Manuela. (1998). Pontos de vista sobre a floresta amazônica: xamanismo e tradução. Mana, 4 (1): 7-22.

Câmara Cascudo, Luís. (1998). Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global.

Campos, João da Silva. (1939). O folclore no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Imprensa Nacional.

ChaumeiL, Jean-Pierre. (1983). Voir, Savoir, Pouvoir. Paris. École des Hautes Études em Sciences Sociales.

Costa, Karina S. P.; Bezerra, Vera Lúcia A. R.; Costa, Hélio de O. S.; Sousa, Cláudio J. da S. (2011). Estudo da potencialidade hídrica da Amazônia maranhense através do comportamento de vazões. In Martins, Marlúcia B. e Oliveira, Tadeu G. (Eds.). Amazônia maranhense: diversidade e conservação (p. 71-88). Belém: MPEG.

Daniel, João. 2004 [1774-1776]. Tesouro descoberto no Máximo Rio Amazonas: 1772-1776, vols. 1 e 2. Rio de Janeiro: Contraponto.

D’abeville, Claude. 2008 [1616]. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Brasília: Senado Federal.

D’Évreux, Y. 2008 [1864]. Continuação da História das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos 1612 e 1614. Brasília: Senado Federal.

Farias Filho, Marcelino S. (2019). Histórico de ocupação e evolução dos aspectos humanos da microrregião da Baixada Maranhense. In Navarro, Alexandre Guida (Org.). A civilização lacustre e a Baixada Maranhense: da Pré-História dos campos inundáveis aos dias atuais (p. 69-87). São Luís: EDUFMA.

Ferreira, A. B. H. (1986). Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.

Franco, J. R. C. (2012). Segredos do rio Maracu. A hidrogeografia dos lagos de reentrâncias da Baixada Maranhense, sítio Ramsar, Brasil. São Luís: EDUFMA.

Funari, Pedro Paulo. (2019). Os desafios do passado a um toque. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, 32: 33-40.

Funari, Pedro Paulo. (2018). Objetividade e subjetividade na historiografia. Heródoto, 3: 600-6009.

Funari, Pedro Paulo; Pelegrini, Sandra. (2007). Conciencia sobre la preservación y desafíos del patrimonio cultural en Brasil. In Patiño, D. (Org.). Las vías del patrimonio, la memoria y la Arqueología (p. 33-56). Popayán: Editorial de la Universidad del Cauca.

Gallois, Dominique. (1996). Xamanismo Waiãpi: nos caminhos invisíveis, a relação I-Paie. In LangdoN, Esther Jean M. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas (p. 39-74). Florianópolis: Editora da UFSC.

Gebhardt-Sayer, Angelika. (1986). Uma terapia estética. Los diseños visionários del Ayahuasca entre los Shipibo-Conibo. América Indígena, 46 (1): 189-218.

Geertz, C. (1989). A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Gell, Alfred. (2018). Arte e agência. São Paulo: UBU.

Gomes, Denise M. C. G. (2016). O lugar dos grafismos e das representações na arte pré-colonial amazônica. Mana, 22 (3): 671-703.

Gomes, Denise M. C. (2019). La comprensión de otros mundos: teoría y método para analizar imágenes amerindias. Revista Kaypunko de Estudios Interdisciplinarios de Arte y Cultura, 4: 69-99.

Gomes, Denise M. C. (2012). O perspectivismo ameríndio e a ideia de uma estética americana. Bol. Museu. Paraense Emílio Goeldi, 7 (1): 133-159.

Gow, Peter. (1988). Visual Compulsion. Design and Image in Western Amazonian Cultures. Revindi 2: 19-32.

Henare, A., Holbraad, M.; Wastell, S. (2007). Introduction. In Henare, A.; Holbraad, M.; Wastell, S. (Eds.). Thinking through Things: Theorizing Artefacts Ethnographically. (p. 1-37). Londres: Routledge.

Hodder, I. (2012). Entangled: An Archaeology of the Relationships Between Humans and Things. Londres: Wiley-Blackwell.

Hugh-Jones, Stephen. (1996). Shamans, Prophets, Priests and Pastor. In Thomas, N.; Humphrey, C. (Eds.). Shamanism, History and the State. (p. 32-75). Ann Arbor: Michigan University Press.

Hodder, I. (1982). Symbols in Action: Ethnoarchaeological Studies of Material Culture. Cambridge: Cambridge University Press.

Kopenawa, Davi; Albert, Bruce. (2016). A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras.

Lagrou, Els. (2013). Podem os grafismos ameríndios ser considerados quimeras abstratas? Uma reflexão sobre uma arte perspectivista. In SeverI, Carlo; Lagrou, Els (Orgs.). Quimeras em diálogo: grafismo e figuração na arte indígena (p. 67-109). Rio de Janeiro: 7 Letras.

Lagrou, Els. (2009). The Crystallized Memory of Artifacts: A Reflection on Agency and Alterity in Cashinahua Image-Making. In Santos Granero, Fernando (Ed.). The Occult Life of Things. Native Amazonian Theories of Materiality and Personhood (p. 192-213). Tucson: The University of Arizona Press.

Lagrou, Els. (2002). O que nos diz a arte Kaxinawa sobre a relação entre identidade e alteridade? Mana, 8(1):29-62.

Langdon, Esther JEAN M. (1996). Xamanismo no Brasil: novas perspectivas. Florianópolis: Editora da UFSC.

Latour, B. (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network Theory. Oxford: Oxford University Press.

Lopes, Raimundo. (1924). A civilização lacustre do Brasil. Boletim do Museu Nacional 1 (2): 87-109.

Lopes da Silva, Aracy. (1998). Mitos e cosmologias indígenas no Brasil: breve introdução. In Grupioni, Luis Donisete B. (Org.). Índios no Brasil (p. 75-82). São Paulo: Global Editora.

Métraux, Alfred. (1932). Contribution a l'étude de l'archéologie du cours supérieur et moyen de l'Amazone. Revista del Museo de la Plata, 32: 145-185.

Montagner, Delvair. (1996). Cânticos xamânicos dos Marúbo. In Langdon, Esther Jean M. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas (p. 171-195). Florianópolis: Editora da UFSC.

Navarro, Alexandre. (2020). The World of Anaconda: the myth of the snake-canoe and its relationship with the stilt villages from Eastern Amazon. Brasiliana: Journal for Brazilian Studies, 9 (2): 30-51.

Navarro, Alexandre G. (2020). Ecology as Cosmology. Animal Myths of Amazonia. In Mikkola, Heimo J. Ecosystem and Biodiversity of Amazonia. (p. 1-13). Helsinqui: IntechOpen.

Navarro, Alexandre G. (2019). Civilização lacustre do Maranhão. São Luís: EDUFMA.

Navarro, Alexandre G. (2018a). New evidence for late first-millennium AD stilt-house settlements in Eastern Amazonia. Antiquity, v. 92 (366): 1586-603.

Navarro, Alexandre G. (2018b). Morando no meio de rios e lagos: mapeamento e análise cerâmica de quatro estearias do Maranhão. Revista de Arqueologia, 31 (1): 73-103.

Navarro, Alexandre G. (2017). As cidades lacustres do Maranhão: as estearias sob um olhar histórico e arqueológico. Diálogos, 21 (3): 126-142.

Navarro, Alexandre G. et al. (2021). The trees of the Water People: archaeological waterlogged wood identification and near-infrared analysis in eastern Amazonia. Wood Science and Technology, 55 (2): 991-1011.

Navarro, Alexandre G.; Alves de Moraes, Caio; Lima da Costa, Marcondes; Nunes da Silva Meneses, Maria Ecilene; Boiadeiro Ayres Negrão, Leonardo; Pöllmann, Herbert; Behling, Hermann. (2021). Holocene coastal environmental changes inferred by multi-proxy analysis from Lago Formoso sediments in Maranhão State, northeastern Brazil. Quaternary Science Reviews, 273: 107234-107247.

Navarro, Alexandre G.; Prous, André. (2020). Os muiraquitãs das estearias do Lago Cajari depositados no Museu Nacional (RJ). Revista de Arqueologia, 33 (2): 66-91.

Navarro, A. G.; Costa, M. L.; Silva, A. S. N. F.; Angélica, R. S.; Rodrigues, S. S. & Gouveia Neto, J. C. (2017). O muiraquitã da estearia da Boca do Rio, Santa Helena, Maranhão: estudo arqueológico, mineralógico e simbólico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 12 (3): 869-894.

Niemoczynski, L. (2013). 21st Century Speculative Philosophy. Cosmos and History, 9: 13-31.

Overton, N.; Hamilakis, Y. (2013). A manifesto for a social zooarchaeology. Archaeological Dialogues, (20): 111-36.

Porro, Antonio. (1993). As crônicas do rio Amazonas. Notas etno-históricas sobre as antigas populações Indígenas da Amazônia. Petrópolis: Vozes.

Porro, Antonio. (2017). O Povo das Águas. Manaus: EDUA.

Rae, G. (2013). Heidegger’s influence on posthumanism. History of the Human Sciences, 26: 1-19.

Raymond, J. S. (1995). From potsherds to pots: a first step in constructing cultural context from tropical forest archaeology. In Stahl, P. (Ed.). Archaeology in the lowland American Tropics: current analytical methods and applications (p. 224-242). Cambridge: Cambridge University Press.

Reichel-Dolmatoff, Gerado. (1996). The Forest Within. The World-View of the Tukano Amazonian Indians. Londres: Themis Books.

Reichel-Dolmatoff, Gerardo. (1988). Goldwork and Shamanism: An Iconographic Study of the Gold Museum. Medellín: Editorial Colina.

Reichel-Dolmatoff, Gerardo. (1978). Desana Animal Categories, Food Restrictions, and the Concept of Color Energies. Journal of Latin American Lore, 4 (2): 243-291.

Reichel-Dolmatoff, Gerardo. (1971). Amazonian Cosmos. Chicago: University of Chicago Press.

Reichel-Dolmatoff, Gerardo. (1978). El Chamán y el jaguar. Estudio de las drogas narcóticas entre los indios de Colombia. México: Siglo XXI.

Rice, Prudence M. (1982). Pottery Analysis. A sourcebook. Chicago: Chicago University Press.

Roe, Peter. (1989). Of Rainbow, Dragons and the Origin of Designs. Latin American Indian Literature Journal, 5 (1): 1-67.

Taylor, Kenneth I. (1996). A geografia dos espíritos: o xamanismo entre os Yanomami setentrionais. In Langdon, Esther Jean M. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas (p. 117-151). Florianópolis: Editora da UFSC.

Thomas, J. (2015). The Future of Archaeological Theory. Antiquity, 89 (348): 1287-1296.

Santos-Granero, Fernando. (2009). Introduction: Amerindian Constructional Views of the World. In Santos-Granero, Fernando (Ed.). The Occult Life of Things. Native Amazonian Theories of Materiality and Personhood (p. 1-29). Tucson: The University of Arizona Press.

Schaan, D. P. (2001). Estatuetas antropomorfas marajoara: o simbolismo de identidades de gênero em uma sociedade complexa amazônica. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém, 1 (2): 437-477.

Seeger, Anthony; Da Matta, R.; Viveiros de Castro, E. (1979). A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. Boletim do Museu Nacional, Série Antropologia, Rio de Janeiro, 32: 2-19.

Shepard, A. (1956). Ceramics for the Archaeologist. Washington, D.C.: Carnegie Institution of Washington (Publication n. 609).

Taussig, Michael. (1988). Shamanism, Colonialism and the Wild Man. A Study in Terror and Healing. Chicago: Chicago University Press.

Viveiros de Castro, Eduardo. (2002). A inconstância da alma selvagem. São Paulo: COSAC&NAIF.

Viveiros de Castro, Eduardo. (1996). Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, 2 (2): 115-144.

Wright, Robin. (2013). Mysteries of the jaguar shamans of the northwest Amazon. University of Nebraska Press.

Wright, Robin. (1996). Os guardiões do cosmos: pajés e profetas entre os Baniwa. In: Langdon, Esther Jean M. Xamanismo no Brasil: novas perspectivas (p. 75-115). Florianópolis: Editora da UFSC.

Downloads

Publicado

2023-07-31

Como Citar

Navarro, A., Funari, P. P., & Gouveia Neto, J. C. (2023). Águas ancestrais: cultura material, noção de transformação e xamanismo nas estearias, Amazônia brasileira. Vestígios - Revista Latino-Americana De Arqueologia Histórica, 17(2), 85–106. https://doi.org/10.31239/vtg.v17i2.41526