Mapear os significados contestados da identidade nacional angolana através da literatura pós-colonial
DOI:
https://doi.org/10.17851/2238-3824.23.3.83-98Schlagworte:
Pepetela, angolanidade, pertencimento, identidade nacional, angolanity, belonging, national identity.Abstract
Resumo: O romance histórico Yaka, de Pepetela, narra o último século de administração portuguesa em Angola e as múltiplas resistências das populações nativas à ocupação colonial até a conquista da independência. Na construção da nação angolana, o pano de fundo do romance, uma narrativa sutil surge nas entrelinhas. Esse espaço liminar de representação articula as dificuldades de definição do que se tornaria representativo de uma ideia, ou um ideal, de “angolanidade” que foi construída concomitantemente à projeção da nação. A complexidade do enquadramento político e cultural que definiria a identidade nacional angolana decorre das experiências da história colonial, que, mais do que (re)inventar as fronteiras do que viria a ser a geografia política do país em busca da independência, teve um papel fundamental na definição do que constituiria o povo angolano – seja colocando juntos diferentes povos que originalmente habitaram esse vasto território, ou pelo assentamento de uma quantidade significativa de colonizadores brancos nos espaços conquistados. Depois de tantos anos de histórias e memórias compartilhadas entre colonizadores e colonizados, que características seriam consideradas como fontes legítimas de pertencimento nacional? Que fronteiras demarcaram a “angolanidade” funcionando como base para a construção da identidade nacional angolana? Quem teria direito à cidadania após o processo de independência? Estas questões orientaram o presente estudo de caso, que, ao ler Yaka como um romance histórico constitutivo das narrativas angolanas de pertencimento elaboradas já em uma conjuntura pós-colonial, reflete sobre os processos de exclusão/inclusão da população não negra na construção de uma ideia ou ideal de “angolanidade”.
Palavras-chave: Pepetela; angolanidade; pertencimento; identidade nacional.
Abstract: Pepetela's historical novel Yaka narrates the last century of Portuguese colonial presence in Angola and the multiple forms of resistance of native populations to colonial occupation until the conquest of independence. In the construction of the Angolan nation, the background of the novel, a subtle narrative appears between the lines. This liminal space of representation articulates the difficulties of defining what would become representative of an idea or an ideal of “Angolanity” that was constructed concomitantly with the projection of the Nation. The complexity of the political and cultural framework that would define Angolan national identity stems from the experiences of colonial history, which, more than (re)inventing the borders of what would become Angolan political geography, played a fundamental role in defining what would constitute the Angolan people – by putting together different peoples who originally inhabited this vast territory, or by the settlement of a significant population of white settlers in the conquered spaces. After so many years of stories and memories shared between colonizers and colonized, what characteristics would be considered as legitimate sources of national belonging? What frontiers demarcated the “Angolanity”, functioning as a basis for the construction of Angolan national identity? Who would have the right to citizenship after the independence process? These questions guided the present case study which, reading Yaka as a historical novel constitutive of the Angolan narratives of belonging elaborated in a postcolonial conjuncture, reflects on the processes of exclusion/inclusion of the non-black population in the construction of an idea or ideal of “Angolanity”.
Keywords: Pepetela; angolanity; belonging; national identity.