A sedução e o perigo da leitura em Teolinda Gersão e Lygia Fagundes Telles
DOI :
https://doi.org/10.17851/2238-3824.28.1.145-159Mots-clés :
Teolinda Gersão, Lygia Fagundes Telles, leitura, metalinguagemRésumé
Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura dos contos “O leitor”, publicado por Teolinda Gersão em Histórias de ver e andar (2002), e “A caçada”, publicado por Lygia Fagundes Telles em Antes do baile verde (1970), tendo como eixo dois elementos centrais e entrelaçados: a leitura e a metalinguagem. A narrativa da autora portuguesa enfoca um protagonista-narrador que realiza um processo tríplice de leitura durante a obra: é o leitor de uma série de histórias policiais que favorecem o escape da solidão e da mecanização de sua vida cotidiana; é o leitor de sua própria condição e das suas experiências no mundo; e, por fim, é o leitor das tradições do gênero policial. Esse processo triplo de leitura despoleta um questionamento acerca dos perigos e prazeres associados a essa atividade. Já o texto de Lygia Fagundes Telles nos propõe uma narrativa na qual ficção e realidade se interpenetram justamente no processo de leitura, conduzido pelo protagonista da obra, de uma tapeçaria que representa uma cena de caça. Pode-se pensar, desse modo, o conto da brasileira como uma espécie de alegoria (fantástica?) da própria recepção do artefato literário, uma vez que desdobra a relação caçador-caça figurada no tapete para a leitor-texto. Na narrativa de Telles, contudo, a leitura implica uma reversão dessa relação. Embora de maneiras distintas e dialogando com diferentes tradições, ambas as obras encenam a sedução e o perigo da leitura.
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