Ambiguidade e repetição em Non ou a vã glória de mandar
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.19.25.103-108Abstract
No presente ensaio, nossa proposta é analisar o filme Non ou a vã glória de mandar, de Manoel de Oliveira, com ênfase em suas relações com a literatura e a história portuguesas. Para tanto, em um primeiro momento, centraremos nosso foco sobre o modo como a recuperação do passado, através de um amálgama de fatos e citações, concorre aí para a transformação da suposta realidade em um discurso, que se serve do potencial manipulador da montagem e, ao mesmo tempo, leva esse potencial à exaustão. Assim, considerando as aporias que o filme gera, procuraremos demonstrar como a repetição obsessiva de um “tropo” – o tema da vontade-de-poder fracassada – ao invés de contribuir para o reforço de uma idéia, acaba antes por ocasionar sua subversão gradativa. Em conseqüência, a possibilidade de um sentido uno, ao ser permeada por uma dúvida crescente, tenderá a transformar toda busca de fechamento em um esforço fadado ao fracasso, realçando, com isso, a inesgotabilidade última do texto fílmico em questão. Texto, esse, que será aqui lido como uma espécie de máquina perversa, voltada integralmente para a produção e reprodução da ambigüidade.
In this essay, our purpose is to analyse the film Non ou a vã glória de mandar, emphasizing its relationships with the portugese literature and history. For this matter, at first, we will focus on how the rescue of the past, trough an amalgam of facts and quotations, contributes to transform the assumed reality in a discourse, which takes advantage of the manipulative power of the editing and, at the same time, brings this power to a exaustion. Hence, considering the apories that the filme creates, we will try to show how the obsessive repetition of a topic – the theme of the deluded will to power – instead of endorsing the idea, causes its gradual subversion. Consequently, the possibility of a single sense, perpassed by a crescent doubt, will tend to convert every search for a closure in a effort destinated to failure, highlightining therefore the restlesness of the filmic text: a text that will be read now as a kind of perverse machine, integrally turned to the production and reproduction of ambiguity.