Figuras de uma história e de uma geografia incessantemente reinventadas na ficção de António Lobo Antunes
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.33.49.21-37Abstract
A leitura de Comissão das Lágrimas (2011), de António Lobo Antunes e de uma entrevista concedida à SIC, pelo autor, por ocasião da publicação do romance, aliada a algumas reflexões críticas de Gilles Delleuze, Maria Alzira Seixo, Jô Babanyi, Marilena Chauí, Nelson Brissac Peixoto e outros, permite-nos tecer, neste ensaio, algumas conjecturas, tais como: Qual teria sido o objetivo de Lobo Antunes, ao reencenar resíduos ou fragmentos de um determinado fato histórico questionável, ocorrido em Angola, no período da pós-independência de Portugal?; De que maneira a ficção referida revela uma estratégia contemporânea de desrealização narcísica, ao sucumbir a um poder mágico de simulação e de projeção de imagens, retidas na memória de determinadas personagens?; Por que podemos afirmar que há um canto fantasmático a vencer a morte, assinalado por “jardins suspensos”, em meio a “flores do Inferno”? De que maneira o leitor, ao sentir-se refletido especularmente na ficção, não se descobrirá, também, uma “figura de uma história e de uma geografia incessantemente reinventadas”?
La lecture de Comissão das Lágrimas (2011), d’António Lobo Antunes et d’une entrevue donnée à SIC, par l’auteur, à cause de la publication du roman, alliée à quelques réflexions critiques de Gilles Deleuze, Maria Alzira Seixo, Jô Babanyi, Marilena Chauí, Nelson Brissac Peixoto et d’autres, nous permet de tisser, en cet essai, quelques conjectures, comme: Quelle aurait été l’objectif de Lobo Antunes, à rejouer des résidus ou des fragments d’un fait historique discutable et particulier qui a eu lieu en Angola dans la période de postindépendance du Portugal?; De quelle manière la fiction référée révèle une stratégie contemporaine de dé-réalisation narcissique de succomber sous le pouvoir magique de simulation et de projection des images, retenues dans la mémoire des déterminés personnages?; Pourquoi ne pouvons-nous dire qu’il y a un chant fantomatique de vaincre la mort, marqué par “jardins suspendus”, parmi “fleurs de l’Enfer”? De quelle manière le lecteur, à se sentir réfléchi de façon spéculaire dans la fiction, ne se découvrira pas aussi une“figure d’une histoire et d’une géographie réinventée constamment”?