A Literatura e as artes, hoje: o texto abjeto, a arte da dor e da violência
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.26.36.143-157Abstract
A especial situação da Galiza na Península Ibérica é, talvez, a de maior complexidade das geradas nos conflitos identitários que encerra o Reino de Espanha. Dentre os índices susceptíveis de devirem definidores de uma “identidade galega”, é a língua o que tem adquirido a posição hegemónica, ao tempo que se configurava como o território privilegiado da confrontação de diferentes projetos de construção nacional. A combinação deste fator constituinte com outros de cariz económico e político tem feito possível a categorização da Galiza como uma colónia endógena na Europa Ocidental. Como um enclave em desigual relação dialética: enclave colonial espanhol em território (material e simbólico) lusófono. Enclave lusófono sobrevivendo em território (administrativo) espanhol. Esta caraterização é dependente do privilégio concedido nas categorias políticas da Modernidade ao Estado-Nação. Desta perspetiva, a Galiza seria quer o “segmento amputado/ocupado” de uma nação, quer uma nação “proibida” (“sem Estado nacional próprio”). Porém, na era do Império, a condição “suspensa” da identidade galega é susceptível de se tornar num dos aporéticos paradigmas próprios ao sujeito do início do novo século: os galegos podem e não podem ser outra coisa. Esta incompletude sua é, assim, não apenas a condição mesma da sua estrangeirice em relação aos dois Estados-Nação da Península Ibérica, mas também, e nomeadamente, ao artefato moderno que o Estado-Nação é.
The special situation of Galiza in the Iberian Peninsula is, perhaps, the most complex identitarian conflict of those locked up by the Spanish Kingdom. Amongst all the potential indicators of a “Galizan identity”, language has acquired a hegemonic position at the same time that it has become the privileged territory for the confrontation of different nationbuilding projects. The combination of this constituent factor with others of economic and political nature made possible to categorize Galiza as an internal colony in Western Europe. As an enclave in an unequal dialectical relationship: a Spanish colonial enclave in (material and symbolic) Lusophone territory. A Lusophone enclave surviving in (administratively) Spanish territory. This characterization depends upon the privilege given to the Nation-State above all political categories of Modernity. From this perspective, Galiza would be either a nation’s “amputated/occupied segment” or a “forbidden” nation (without “its own Nation-State”). However, in Empire, the “suspended” condition of Galizan identity may become one of the aporetic paradigms of subjectivity at the beginning of the new century: Galizans can and cannot be (an)other thing. Their incompleteness is, thus, not only the very condition of their foreignness to the two Nation-States of the Iberian Peninsula but, above all, to the modern artifact that the Nation-State is.