Da navegação à emigração: o império colonial no cinema português de ficção anterior à Revolução dos Cravos / From Navigation to Emigration: The Colonial Empire in Portuguese Fiction Cinema Before the Carnation Revolution
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.39.62.201-232Keywords:
cinema português, salazarismo, colonialismo, guerra colonial, Portuguese cinema, salazarism, colonialism, colonial war.Abstract
Resumo: Uma nação de navegadores transformada em país de emigrantes. A partir desse diagnóstico, Eduardo Lourenço, no ensaio “A nau de Ícaro ou o fim da emigração”, escrito em 1993, compreende a identidade nacional portuguesa como “um colossal fenômeno de expatriação”. Em observação a dois filmes ficcionais paradigmáticos da tematização do colonialismo pelo cinema português anterior à redemocratização, Chaimite (1953) de Jorge Brum do Canto e Mudar de Vida (1966) de Paulo Rocha, o referido diagnóstico torna-se especialmente sugestivo, uma vez que a imagem gloriosa do herói português desbravador e civilizador de outros povos, apresentada pelo primeiro filme, acaba transformada, pelo segundo, na figura melancólica do trabalhador que, sem perspectiva de adequação aos novos sistemas produtivos, percebe a emigração como única alternativa. É a partir dessa relação que aqui se pretende discutir essas duas obras cinematográficas em atenção ao contexto histórico em que foram produzidas.
Palavras-chave: cinema português; salazarismo; colonialismo; guerra colonial.
Abstract: A nation of navigators turned into a country of emigrants. From this diagnosis, Eduardo Lourenço, in the essay “A nau de Ícaro ou o fim da emigração”, written in 1993, understands Portuguese national identity as “a colossal phenomenon of expatriation”. Observing two paradigmatic fictional movies of the thematization of colonialism by Portuguese cinema before re-democratization, Chaimite (1953) by Jorge Brum do Canto and Mudar de Vida (1966) by Paulo Rocha, this diagnosis becomes especially suggestive, since the glorious image of the pioneering Portuguese hero as the civilizer of the other peoples, on the first film, becomes, in the second, the melancholy figure of the worker who, with no prospect of adapting to the new production systems, perceives emigration as the only alternative. It is from this relationship that we intend to discuss these two cinematographic works in attention to the historical context in which the two movies were produced.
Keywords: Portuguese cinema; salazarism; colonialism; colonial war.