O “leitor a vir” em A Saca de Orelhas, de Alexandre O’Neill
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.31.46.99-108Resumen
A necessidade de se instaurar uma nova poética, e com isso criar, ao mesmo tempo, “novas formas de leitura”, no intuito da “formação de novos leitores”, representaria, segundo Rosa Maria Martelo, uma constante da poesia moderna. Para isso, os poetas recorrem a diversas estratégias de atração do leitor, que não são, entretanto, pautadas em uma identificação do leitor com o poeta. Elas cumpririam seu papel por meio de inovações formais, de linguagem. Por outro lado, essas estratégias, na contemporaneidade, parecem voltar a reclamar uma cumplicidade com o leitor, porém de forma diversa da Modernidade. Alexandre O’Neill encontra-se a meio caminho entre a tradição moderna e a condição contemporânea, na medida em que dialoga com os preceitos da vanguarda modernista, por vezes a subvertendo. Em A saca de orelhas, livro de poemas de 1979, o poeta revê não apenas a tradição literária modernista, mas trabalha sobre uma herança mais vasta, e estabelece um tipo específico de relação com elementos do cotidiano, imagens do senso comum e da história do país, entre outros componentes que indicam a criação de laços, sejam de parentesco, históricos ou literários. O poeta se posiciona com freqüência de maneira a se opor a esses componentes de ordem variada. É o que fica claro pela análise do livro, que conta com três poemas intitulados “Acontrapelos”, os quais devem ser lidos invertendo os sentidos dos versos. A definição da nova poética parece realmente se dar por meio de um movimento de contestação, oposição ou reversibilidade dos sentidos. Este trabalho propõe investigar se, através dessa linha de composição dissonante, o poeta consegue encontrar seu lugar, estando ciente de que “Há uma gente que desponta do outro lado do vale./ (...) São meus semelhantes./Com eles vou desentender-me (mais que certo!),/mas a idéia que deles faço/ é ainda um laço.”
Le besoin de créer une nouvelle poétique en créant au même temps “des nouvelles formes lecture”, dans le but de “former des nouveaux lecteurs”, réprésenterait, selon Rosa Maria Martelo, un mouvement continuel dans la poésie moderne. Pour ce faire, les poètes font appel à plusieurs stratégies de séduction du lecteur, qui ne sont pas, bien entendu, fondées dans une identification du lecteur avec le poète. Elles joueraient leur rôle grâce à des inovations formelles ou de langage. D’autre part, dans les temps contemporains, ces stratégies semblent requérir à nouveau la complicité avec le lecteur, mais, dans ce casci, d’une manière différente de celle pratiquée dans les temps modernes. Alexandre O’Neill se trouve entre la tradition moderne et la condition contemporaine dans la mesure où il dialogue avec les notions de l’avant-garde, toute en les bouleversant. Dans “A Saca de Orelhas”, livre de poèmes de 1979, le poète revoit non seulement la tradition d’avant-garde moderne, mais il travaille avec un héritage plus grand. D’ailleurs, il établit un type de rapport avec des éléments du quotidien, des images du sens commun et de l’histoire de Portugal, parmi d’autres composants qui indiquent la création de liaisons, comme les liens de parenté, historiques ou littéraires. Toutefois, fréquemment le poète nie ces composants. C’est ce qui ce travail propose d’examiner, spécifiquement dans les poèmes nommés “Acontrapelos”. La définition d’une nouvelle poétique nous paraît émerger par un mouvement de contestation, opposition ou réversibilité des sens.