A metaficção historiográfica em História do Cerco de Lisboa
DOI :
https://doi.org/10.17851/2359-0076.22.30.199-224Résumé
Fato fundador da nação portuguesa, o cerco de Lisboa e o conseqüente extermínio dos mouros remete-nos, incontestavelmente, à mítica figura de seu primeiro rei, Afonso Henriques. A partir de seu título, supomos estar diante de um romance histórico. Entretanto, o autor surpreendenos apresentando outra história, a do revisor Raimundo Silva. Trata-se de um romance em que o passado é revisto pela ótica desta personagem, num trabalho de releitura e de reescrita. Resulta desse processo uma desmistificação dos heróis e da História nacional, bem como uma proposta de reflexão para o futuro. Passado e presente se entrelaçam de maneira a construir um diálogo onde vários pontos de vista substituem a voz una e autoritária do autor. Ao fundirem-se totalidade e particularidade, é traçado um paralelo entre a história particular do protagonista e a conquista da cidade, isto é, os primórdios da História de Portugal. Emaranham-se História e Ficção conferindo um novo sentido àquela, ao mesmo tempo em que nasce uma reflexão. Ao trabalhar o riso e a ironia, José Saramago instaura na estrutura e no discurso deste romance a chamada carnavalização bakhtiniana reforçando a metaficção historiográfica e descortinando novas perspectivas sobre a História de Portugal, a Arte e valores existenciais humanos.
Le siège de Lisbonne fut un événement fondateur de la nation portuguaise. L’extermination des maures renvoie au personnage mythique d’Afonso Henriques, premier roi de Portugal. Le titre du roman nous fait penser à un roman historique, cependant l’auteur nous surprend et nous présente une autre histoire, celle du reviseur Raimundo Silva. História do Cerco de Lisboa est un roman où le passé est revu par l’optique de ce personnage dans un travail de relecture et reécriture. De ce processus de démythification et des héros et de l’Histoire naît une proposition de reflexion pour le futur. Passé et présent se lient dans un dialogue où plusieurs points de vue subtituent la voix autoritaire de l’auteur. José Saramago, dans ce roman établit un parallèle entre l’histoire particulier du protagoniste et la conquête de la ville. Il renoue la signification de l’ Histoire en la mélangeant avec la Fiction. Le rire et l’ironie créent la “carnavalisation bakhtinienne” dans la structure et dans le discours de ce roman et ouvre de nouvelles perspectives sur l’Histoire de Portugal, sur l’Art et sur des valeurs humaines.