Quixotismo e saudosismo na era dos modernismos

um epistolário sombroso por terras de Portugal e de Espanha

Résumé

O presente artigo analisa a correspondência trocada entre Teixeira de Pascoaes e Miguel de Unamuno, no período de 1905 a 1934, publicada em 1957, posteriormente ao falecimento de ambos. O objetivo central do estudo é evidenciar como as ideias e as práticas artísticas de escritores situados na penumbra dos modernismos de seus países (respectivamente Portugal e Espanha) podem oferecer contributo dialógico à discussão sobre os modernismos do século XX, com ênfase para a experiência portuguesa. As noções de dialogismo, polifonia e grande tempo, de Mikhail Bakhtin (2006), constituem o sustentáculo teórico desta proposição, que recorre a textos críticos e literários dos próprios Pascoaes e Unamuno para identificar semelhanças ético-estéticas entre o “saudosismo” e o “quixotismo”. Os dois conceitos destacados são retomados, a partir do método crítico polifônico (de orientação bakhtiniana), para explicitar relações estruturantes entre o final dos anos 1800 (a partir da década de 1870) e os primeiros decênios do século XX, na Península Ibérica, que impactaram a fisionomia artística de autores em atividade no interlúdio que vai de 1905 aos anos 1930. Em conclusão, o epistolário de Unamuno e Pascoaes, registrando uma interlocução ativa no campo da recepção e crítica de obras e programas artísticos/filosóficos frequentemente apartados dos estudos sobre os movimentos modernistas, permite uma atualização necessária, neste terceiro milênio, da multifacetada cena intelectual que abriu e marcou o breve, mas insepulto, século XX.