“A Cena do Ódio” e o domínio do eu
DOI :
https://doi.org/10.17851/2359-0076.44.71.125-142Mots-clés :
Almada Negreiros, Orfeu, ódio, autorretrato, pinturaRésumé
Este ensaio propõe a leitura do poema “A Cena do Ódio”, de Almada Negreiros, a partir da perspectiva de que, ao mesmo tempo em que há a crítica incisiva, panfletária em alguns momentos, ao que o mundo moderno e contemporâneo se tornou, há a escrita e a representação do eu, cuja constituição, narcisisticamente feita, compõe um autorretrato esgarçado, mas hegemônico; totalizante, porém composto pelo recorta-e-cola (M. Foucault). O poema faz de maneira exemplar o movimento da Lírica e Sociedade (T. Adorno), reiterando sucessivamente o modo como o fora age no dentro e o que o Eu, co-movido, devolve ao mundo. Nesse movimento, o retrato do eu é também a resposta: “Serei Vitória um dia / – Hegemonia de Mim!” enquanto o mundo e a burguesia sintetizam-se no “e tu nem derrota, nem morto, nem nada”. A plasticidade do poema é desconcertante, assim como também o é a musicalidade, muitas vezes ressaltada por inusitadas aproximações entre palavras bastante diferentes do ponto de vista semântico, embora com bastante similitude sonora – esses aspectos que conferem musicalidade aos versos serão apontados na medida em que ampliam e/ou tensionam a representação do Eu.
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Références
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