Uma anti-hagiografia das “virtudes antigas”

A freira que fazia chagas (1868), de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.17851/2359-0076.43.75.149-169

Palabras clave:

Camilo Castelo Branco, A freira que fazia chagas, Antigo Regime, Hagiografia

Resumen

As virtudes antigas ou A freira que fazia chagas e O frade que fazia reis (1868) é uma coletânea de textos, de Camilo Castelo Branco (1825-1890), que tematiza as fraudes e as intervenções dos religiosos na sociedade do Ancien Régime, em Portugal. Tal obra teria como intenção a denúncia contra os vícios de outrora e deveria fomentar a reflexão sobre as fantasias, em meio ao liberalismo, de que o regime precedente era modelar e mais moralizado. Interessa-nos, neste trabalho, a seção A freira que fazia chagas, que descreve a farsa, a descoberta e a condenação de Soror Maria da Visitação (1551-?), prioresa do mosteiro dominicano da Anunciada, em Lisboa. Averiguamos a estrutura e o possível enquadramento do gênero literário da obra de Camilo, bem como o narrador apreendeu e interpretou as fontes documentais referidas no texto. Verificamos essas questões em diálogo, sobretudo, com os estudos de Antonio Augusto Nery (2023) e Eduardo Lourenço (1999). 

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Publicado

2025-07-14

Número

Sección

Dossiê: Camilo Castelo Branco e a Irrequieta Heterodoxia

Cómo citar

Uma anti-hagiografia das “virtudes antigas”: A freira que fazia chagas (1868), de Camilo Castelo Branco (1825-1890). (2025). Revista Do Centro De Estudos Portugueses, 45(75), 149-169. https://doi.org/10.17851/2359-0076.43.75.149-169