O (autor)retrato da melancolia pessoana
a deformação e o hematoma no Livro do desassossego
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.43.69.88-104Parole chiave:
Livro do desassossego, Fernando Pessoa, Bernardo Soares, retrato, melancoliaAbstract
Este artigo tem como foco analisar a maneira pela qual a deformação e o desfiguramento da autopercepção registrados no tecido pessoano abordado, o Livro do desassossego, engendram e subsidiam o senso de melancolia, vazio e tédio, isto é, a comunhão intima entre a forma descritiva que Bernardo Soares, semi-heterônimo de Pessoa, utiliza para apresentar seu retrato em face dos outros externos com os efeitos de sentido produzidos. Para isso, parte-se do método dedutivo a fim de consolidar as exposições propostas – no caso, buscam-se estudos acerca da melancolia, tédio e autorretrato para incidir, no rosto pessoano, conclusões retiradas das descrições selecionadas. Diante disso, a pesquisa constatou que Soares carrega um asco no contemplar-se, considerando-o como vil; implicitamente, revela-se a ideia de que a autoconsciência é solapadora ao ego. Portanto, a melancolia não é decorrência de se contemplar, mas, sim, implicação direta da consciência do Eu em seu lugar no mundo. Por fim, nota-se que a voz do texto arbitrariamente transmuta sua face aos moldes melancólicos (face esquálida e inexpressiva) ao passo que ressalta a potência dos externos (faces robustas e vívida), pontos descritivos que demonstram seu apequenamento e, por extensão, seu rombo interno. Na construção das referências, chamam-se Ferrari & Pizarro (2017) e Zenith (2011) na introdução do Livro para formular os itinerários da obra analisada; Didi-Huberman (1998) na visão sobre o rosto, retrato e suas demarcações simbólicas; Scliar (2003) e Svendsen (2006) na consolidação da melancolia e tédio e Lopes (2014), Anghel (2014) e outros na análise do corpus.
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