EDITORIAL
DOI:
https://doi.org/10.1590/1983-21172015170313%20Resumo
No fechamento desta edição, estivemos imersos em inúmeros debates no campo da educação. Um deles, relativo à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujo documento preliminar encontra-se aberto à consulta pública. Apesar de estar prevista nas Diretrizes Curriculares e aprovada no Plano Nacional de Educação, um intenso debate tem sido realizado sobre o sentido desta Base, sobre a necessidade da mesma e de seus desdobramentos. Se tomarmos o espectro de posições, favoráveis e contrárias à BNCC, vemos que vários desses posicionamentos convergem ao indicar a necessidade de preservar a diversidade cultural e de abordagens dos temas de escolarização e, ao mesmo tempo, a proposição de objetivos educacionais básicos e fundamentais, a serem preservados e garantidos a todos (Batista, Lugli e Ribeiro, 2015).
No entanto, há que se reconhecer a precariedade das condições de produção do documento preliminar e, ainda, o exíguo tempo destinado à consulta pública. Disso resultam problemas de diversas ordens na proposta, seja quando se consideram sua estrutura e organização, seja quando examinamos em detalhe as proposições feitas nas áreas de conhecimento e componentes curriculares. Não foram dadas condições mínimas para que uma posição hegemônica fosse sendo construída, nem mesmo entre aqueles que consideram a BNCC um vetor de mudanças desejáveis na educação brasileira. Preocupa, sobretudo, que esse debate, embora intenso no meio acadêmico, inexiste entre os professores e escolas da Educação Básica, a quem compete, supostamente, concretizar suas intenções educativas.
Nesse sentido, é necessário rever os prazos inicialmente previstos para consolidação da proposta, que deveria ser precedida por uma ampla discussão sobre seu caráter, alcance e desdobramentos. A Base Comum deve indicar um currículo ideal ou um currículo mínimo? Como devem ser estabelecidos os tempos e orientações para a parte diversificada do currículo? Qual o nível de detalhamento desejável da proposta? Quais as implicações dessas definições para a avaliação de sistemas educativos, a produção de materiais didáticos e a formação, inicial e continuada de professores? O que se pretende com a Base? Quais os próximos passos?
Outro debate se abre em torno de cortes anunciados em órgãos do Ministério da Educação e em programas e políticas educacionais em andamento. Preocupa, entre outros, o debate sobre cortes anunciados no PIBID, Programa de Bolsas de Iniciação à Docência, da Diretoria da Educação Básica da CAPES. São notórias as contribuições deste programa para a formação de professores em sintonia com necessidades e realidade das escolas e dos estudantes da educação básica (Gatti et al, 2014). O sucesso deste Programa depende fundamentalmente da figura do Professor Supervisor, com bolsa, reconhecimento e condições de atuar como um formador no contexto da Escola e da sala de aula. Tais condições incluem reuniões da equipe na Universidade e o diálogo crítico e propositivo com novas metodologias e abordagens educativas.
Cabe ressaltar que além das pressões e cortes nas políticas educacionais, acompanhamos também movimentos de cidadania e resistência, como a inesperada reação de estudantes secundaristas ao fechamento de escolas em São Paulo. Neste contexto, entendemos também como animadoras as produções de pesquisa publicadas neste volume que temos a honra de apresentar.
Os artigos deste volume tratam de temas de inegável relevância educacional. As temáticas do currículo e de reformas curriculares estão presentes no artigo 1 ( As Complexidades Inerentes ao Tema 'Mudanças Climáticas': Desafios e Perspectivas para o Ensino de Física), artigo 3 ( As Reações dos Professores de Ciências diante da Implantação de Novo Currículo na Rede Estadual Paulista) e na resenha do livro " A Complexidade aplicada à Educação: sustentabilidade, transdisicplinaridade e criatividade" de Moraes e Suanno (2014).
Estudos de processos de aprendizagem em salas de aula de ciências são tratados no artigo 4 ( Imagens e Desenhos Infantis nos Processos de Construção de Sentidos em uma Sequência de Ensino sobre Ciclo da Água), artigo 5 ( Leitura em Sala de Aula de Ciências como uma Prática Social Dialógica e Pedagógica) e artigo 8 ( Argumentação e Orientações Discursivas na Educação em Ciências).
A temática da avaliação, com estudos que alternam entre abordagens quali e quantitativas foram retratados nos artigos 6 ( A Medida nas Pesquisas em Educação: Empregando o Modelo Rasch para Acessar e Avaliar Traços Latentes) e artigo 7 ( Análise Comparativa de Desempenho de Alunos de Ensino Médio em Atividade com Modelagem Computacional Exploratória e Atividade Tradicional sobre Movimento dos Corpos).
Finalmente, outros quatro artigos apresentam-se no contexto de formação de professores, em diferentes abordagens, como o artigo 2 ( Promovendo a Alfabetização Científica através do Ensino Investigativo no Ensino Médio de Química: Contribuições para a Formação Inicial Docente ), artigo 9 ( Aprendizagem Docente no âmbito do PIBID/Física: a Visão dos Bolsistas de Iniciação à Docência ), artigo 10 ( A Formação Educacional na EJA: Dilemas e Representações Sociais ) e artigo 11 ( Mobilização do Conhecimento Socioambiental de Professores por meio do Desenvolvimento de Ações para Conservação de Nascentes Urbanas).
Agradecemos, uma vez mais, à imprescindível colaboração de autores e avaliadores, bem como à equipe editorial da Revista. Desejamos a todos uma boa leitura.
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Referências
GATTI, B.; ANDRÉ, M.; GIMENES, N.; FERRAGUT, L. (2014) Um estudo avaliativo do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). (Textos FCC, 41). São Paulo: FCC/SEP [ Links ]
BATISTA, A. G.; LUGLI, R.; RIBEIRO, V. Centralização e Padronização dos Currículos: Posições e Tomadas de Posição. Anais da 37a Reunião da ANPED. Florianópolis: ANPED, 2015. [ Links ]