DISCURSOS QUE CIRCULAM NA CORREÇÃO DE UM QUESTIONÁRIO: SENTIDOS E SIGNIFICADOS
DISCOURSES PRESENT IN THE CORRECTION OF A QUESTIONNAIRE: SENSES AND MEANINGS
DOI:
https://doi.org/10.1590/1983-21172012140315Palavras-chave:
Questionário; Dialogia; Ensino de Ciências; Sala de aula.Resumo
Este trabalho analisa o uso do questionário em uma aula de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Ao investigar a aula, compreendemos o questionário como um gênero escolar pertencente a práticas institucionalizadas que envolvem alunos e professores a partir de contratos tácitos que vinculam as duas pontas na interação, numa incessante tarefa de produção de sentido a partir do querer dizer do professor e do que é interpretado pelos alunos. Baseado em estudos sobre esse gênero, foram analisados três episódios distintos que contemplam diferentes fases da correção de um questionário. Num primeiro momento, os papéis desempenhados por professora e alunos e o lugar social de onde falam, ouvem e agem é bem marcado. No segundo evento, identificamos que no processo de correção do questionário, a linguagem não se apresenta ordenada. Como produto do incessante leva e traz, o discurso resiste a uma sistematização rígida. No último evento, identificamos que mesmo com as opressões hierárquicas, as palavras circulam. Assim, partindo dos pressupostos bakhtinianos, a questão fundamental presente neste artigo é a discussão da natureza dialógica do questionário.
This work analises the use of questionnaires in a primary Science classroom. We applied the questionnaires as a school genre, belonging to institutionalized practices among students and teachers which are carried out from tacit contracts that link both sides of the interaction. Based on the study of such genre, we have analysed three episodes concerning three different steps of the questionnaire correction. In the first instance, the roles played by the teacher and the students, as well as the social milieu from which they speak, hear and act are well defined, contrary to what happened in the second episode. As a product of a ceaseless movement, the discourse resists to a rigid systematization. In the last episode, we have identified that the words move on, in spite of the hierarchical oppressiveness. Therefore, from bakhtinian perspective, the fundamental question of this article is the discussion of the dialogical nature of the questionnaire.
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