O gosto da morte na vida dos lugares
DOI:
https://doi.org/10.35699/2237-549X..15339Palavras-chave:
geografia hedonista, finitude, espaço-entreResumo
A morte é compreendida como constituinte da vida dos lugares por meio do gosto. Degustar os lugares é vivenciá-los não apenas como vida, mas também enquanto morte que já se é, na condição de seres-para-a-morte (Heidegger) que somos. O gosto da morte, neste sentido, não é apenas amargo, mas pode ser o de esperança, rompendo com a associação dicotômica da morte como evento que coloca fim e, portanto, puramente negativo. A vida, por vezes, ela própria é o desespero (Kierkegaard), não pelo medo da morte, mas por sua impossibilidade. O gosto da morte, portanto, também constitui os lugares e aquilo que somos, tanto para quem morre quanto para quem assiste a morte de outrem, tanto na angústia quanto na busca de sentido da vida. Pensar o gosto da morte pode ser um caminho para reconhecer a força hedonista que constitui nossas geografias, no espaço-entre que é a vida.
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