Preservar para extrair, grilar e espoliar

ambientalismo operacional e as unidades de conservação de Carajás

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2237-549X.2022.40635

Palavras-chave:

Unidades de Conservação, Ambientalismo Operational, Amazônia, Mineração, Preservação, sustentabilidade

Resumo

 

Unidades de conservação (UCs) tem diversas funções alternativas que excedem sua suposta finalidade original de preservar o meio ambiente. No caso da mineração, em particular, há uma grande diversidade de funções articuladas aos interesses das mineradoras. A partir do caso do “Mosaico de Carajás”, um conjunto de UCs no sudeste paraense, o presente artigo discute os diversos usos e funções para as operações da Vale S.A., chamando a atenção para suas intencionalidades subjacentes e formas institucionais de implementação. Três funções principais são destacadas: primeiro, o controle territorial através das UCs protege fisicamente os sítios de extração de ocupações e conflitos territoriais, viabilizando a operação mineradora; segundo, UCs regularizam operações ilegais de aquisição de terras e rodadas anteriores de grilagem, geralmente envolvendo a empresa mineradora; terceiro, a criação de novas UCS serve como instrumento de espoliação de grupos e comunidades assentadas, definindo novas funções e parâmetros legais de uso da terra. A partir da ideia de “operações do capital”, este artigo oferece o conceito de “ambientalismo operacional” para denotar as formas através das quais a regulação ambiental e as UCs se tornam elementos fundamentais para a mineração, em múltiplas instâncias.

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Publicado

2023-03-17

Como Citar

Castriota , R. . (2023). Preservar para extrair, grilar e espoliar: ambientalismo operacional e as unidades de conservação de Carajás. Revista Geografias, 18(2), 21–43. https://doi.org/10.35699/2237-549X.2022.40635

Edição

Seção

Artigos