1968, ONTEM E HOJE
Palavras-chave:
maio de 68, neoliberalismo, repetição, conceito históricoResumo
A estrutura singular deste artigo deriva das peculiares características do evento Memórias 2 em 1: 25 anos do doutorado em Filosofia da UFMG/1968 ontem e hoje Brasil, Europa, EUA, ao qual esteve vinculada sua elaboração. A combinação no evento do apelo à reflexão filosófica com a remissão a acontecimentos históricos explica por que o artigo dividese em quatro seções, de teor bem diverso, organizadas como se partes de um mosaico. Na primeira evoca-se o “ambíguo significado dos eventos de 1968, em cujo curso as mobilizações e lutas por uma vida mais livre e por uma sociedade mais justa foram acompanhadas e sobrepujadas pela reação conservadora e autoritária. A segunda relembra de modo mais determinado as revoltas de 68 nos diferentes países e seus melancólicos desfechos. Na terceira seção, o artigo chama atenção para que, na sequência quase imediata de 1968, o processo de globalização e a difusão planetária do neoliberalismo produziram uma alteração profunda na forma de organização das sociedades contemporâneas e nos padrões socialmente esperados dos planos de vida e dos comportamentos individuais cuja consequência foi a abertura de um período histórico novo no desdobramento do qual a associação de insatisfação e aspirações revolucionárias e utópicas das revoltas de 1968 tornou-se irremediavelmente anacrônica. Na quarta e conclusiva parte, o artigo vale-se da lição de Heidegger sobre o conceito de repetição, do modo como Deleuze a comenta, de uma página de Foucault sobre o caráter transistórico das insurreições e da análise de Ricœur sobre a natureza dos conceitos empregados na historiografia para apresentar duas teses filosóficas: a do caráter sui generis da instanciação dos universais históricos e a da vinculação da série aberta dos movimentos insurrecionais ao caráter intrínseca e insuperavelmente problemático da sociabilidade humana.
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