INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO E O PROBLEMA DO DIRECIONAMENTO AXIOLÓGICO

Autores

Palavras-chave:

axiologia, aceitação, programas de pesquisa

Resumo

O argumento da inferência da melhor explicação estabelece que, dado um fenômeno a ser explicado, várias hipóteses rivalizam para oferecer essa explicação, e a hipótese que melhor explicar o fenômeno fornece boas razões para a crença em sua verdade e, portanto, para a aceitação dessa hipótese. O argumento pressupõe que essas hipóteses rivais compartilham o mesmo fenômeno a ser explicado. Neste artigo, é argumentado que, em alguns episódios científicos, cientistas com hipóteses diferentes, mesmo que compartilhem o fenômeno a ser explicado, possuem objetivos diferentes quanto ao tratamento do fenômeno; isso, por sua vez, geraria um problema para a estrutura do argumento, pois a colocação de objetivos diferentes para o tratamento de um fenômeno teria como consequência um direcionamento axiológico por parte dos cientistas, direcionamento este não contido na estrutura do argumento. Além disso, o direcionamento axiológico pode também se revelar decisivo para a questão da aceitação de uma hipótese, situação esta não prevista no argumento da inferência da melhor explicação. O objetivo deste artigo é o de defender, por meio da concepção de “programas de pesquisa” de Imre Lakatos, e por meio de um estudo de caso – a aceitação do modelo da dupla hélice do DNA –, a ideia de que a diferença axiológica pode se revelar fundamental para a aceitação de uma hipótese em detrimento de outras hipóteses rivais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BERRY, D. “Bruno to Brünn; or the Pasteurization of Mendelian gentics”. Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences, 48, p. 280-286, 2014.

BIRD, A. “Philosophy of Science”. Montreal: Mcgill-Queen’s University Press, 1998.

BIRD. A. “Inferência da Única Explicação”. Tradução de Marcos Rodrigues da Silva Cognitio, v. 15, n. 2, p. 375-384, 2014.

BLOOR, D. “Conhecimento e Imaginário Social”. Tradução de Marcelo Penna-Forte. São Paulo: Unesp, 2009.

BOWLER, P. “The Mendelian Revolution”. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1989.

BOYD, R. “Lex Orandi est Lex Credendi”. Images of Science (ed. Churchland, P. & Hooker, C.). Chicago: Chicago Press, 1985.

BOYD, R. “Realism, Approximate Truth, and Method”. Minnesota Studies in the Philosophy of Science, v. XIV (ed Savage, C. W.). Minneapolis: University of Minnesota Press, 1990.

CHAKRAVARTTY, A. “Scientific Realism”. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2017.

CREAGER, A, MORGAN, G. “After the Double Helix”. Isis, 99: 239-272, 2008.

CRICK, F. “What mad pursuit. a personal view of scientific discovery”. New York: Basic Books, 1988.

FUMERTON, R. “Induction and Reasoning to the Best Explanation”. Philosophy of Science, 47, 1980.

GEISON, G. “The Private Science of Louis Pasteur”. Princeton: Princeton University Press, 1995.

GIERE, R. “Science without laws”. Chicago: The University of Chicago Press, 1999.

HARMAN, G. “Inferência da Melhor Explicação.” Tradução de Marcos Rodrigues da Silva e Miriele Sicote de Lima. Dissertatio, 47, p. 325-332, 2018.

JUDSON, H. “The eight day of creation”. London: Jonathan Cape, 1979.

KAY, L. “The Molecular Vision of Life”. Oxford: Oxford University Press, 1993.

KNORR-CETINA, K. “The Manufacture of Knowledge”. Oxford: Pergamon Press, 1981.

KUKLA, A. “Studies in Scientific Realism”. Oxford: Oxford University Press, 1998.

LADYMAN, J. “Understanding Philosophy of Science”. Londres: Routledge, 2002.

LAKATOS, I. “Falsification and the Methodology of Scientific Research Programmes”. p. 8-101. Ed. John Worral, Gregory CURRIE. The Methodology of Scientific Research Programmes (Philosophical Papers, v. 1). Cambridge: Cambridge University Press, 1978.

LAUDAN, L. “O Progresso e seus Problemas”. Tradução de Roberto Leal Ferreira. Sçao Paulo: Unesp, 2010.

LENOIR, T. “Instituindo a Ciência”. Tradução de Tradução de Alessandro Zir. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

LEPLIN, J. “A novel defense of scientific realism”. Oxford: Oxford University Press, 1997.

LEWENS, T. “Realism and the Strong Program”. British Journal for the Philosophy of Science, 56, 2005.

LIPTON, P. “Inference to the best explanation”. 2. ed. London: Routledge, 2004.

LIPTON, P. “O melhor é bom o suficiente?” Tradução de Marcos Rodrigues da Silva e Alexandre Meyer Luz. Princípios, 17, 27, p. 313-329, 2010.

MADDOX, B. “Rosalind Franklin: The Dark Lady of DNA”. New York: Harper Colins, 2002.

MCELHENY, V. “Watson and DNA”. Cambridge: Perseus Publishing, 2003.

MORANGE, M. “A History of Molecular biology”. Tradução de Matthew Cobb. Cambridge: Harvard University Press, 1998.

OLBY, R. “The path to the double helix. London: MacMillan, 1974.

PICKERING, A. “Openness and Closure: On the Goals of Scientific Pratice”. Ed. H. Le Grand. Dordrecht: Kluwer, 1990.

POLCOVAR, J. “Rosalind Franklin and the Structure of Life”. Greensboro: Morgan Reynolds, 2006.

PSILLOS, S. “Scientific Realism: How Science Tracks Truth”. Londres: Routledge, 1999.

PSILLOS, S. “Sobre a crítica de van Fraassen ao raciocínio abdutivo”. Tradução de Marcos Rodrigues da Silva e Alexandre Meyer Luz. Crítica, v.6, n. 21, p. 35-62, 2000.

PSILLOS, S. “The Fine Structure of Inference to the Best Explanation”. Philosophy and Phenomenological Research”, LXXIV, n. 2, 2007.

RHEINBERGER, H. “A Short History of Molecular Biology”. Disponível em https://www.eolss.net/Sample-Chapters/C05/E6-89-06-00.pdf, 2011.

RIDLEY, M. “Francis crick: discoverer of the genetic code”. New York: Harper Colins, 2006.

SAYRE, A. “Rosalind Franklin and DNA”. New York: W.W. Norton & Company, 1975.

STANFORD, K. “Exceeding our Grasp”. Oxford: Oxford University Press, 2006.

STANFORD, K. “Unconceived Alternatives and Conservatism in Science: the impact of professionalization, peer-review, and Big-Science”. Synthese, v. 196, n. 10, p. 3915–3932, 2015.

THAGARD, P. “A Melhor Explicação: Critérios para a Escolha de Teorias”. Tradução de Marcos Rodrigues da Silva. Cognitio 18, v. 1, p. 145-160, 2017.

VAN FRAASSEN, B. “Laws and Symmetry”. Oxford: Oxford University Press, 1989.

VAN FRAASSEN, B. “The Scientific Image”. Oxford: Clarendon Press, 1980.

WATSON, J. “O Segredo da Vida”. Tradução de Carlos Afonso Malferrari. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

WATSON, J. “The Double Helix”. London: Weidenfeld & Nicolson, 1997.

WATSON, J., CRICK, F. “A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid”. Nature 171, v. 4361, p. 737-738, 1953a.

WATSON, J., CRICK, F. “Genetical Implications of the Structure of Deoxyribose Acid”. Nature 171, v. 4356, p. 964-967, 1953b.

WILKINS, M. “The Third Man of the Double Helix”. Oxford: Oxford University Press, 2003.

Downloads

Publicado

30-08-2022

Como Citar

SILVA, M. R. da . INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO E O PROBLEMA DO DIRECIONAMENTO AXIOLÓGICO. Revista Kriterion, [S. l.], v. 63, n. 152, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/kriterion/article/view/32640. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos