DESCRIÇÃO: EFEITO DE REAL OU EFEITO DE IGUALDADE?

UM DIÁLOGO DE RANCIÈRE COM (E CONTRA) BARTHES

Autores

Palavras-chave:

Jacques Rancière, literatura romanesca, representação, regime estético, política da escrita, Roland Barthes

Resumo

Em “O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna”, Jacques Rancière criticará Roland Barthes, afirmando que sua interpretação do livro “Um coração simples”, de Gustave Flaubert, teria se mostrado incapaz de perceber a política da escrita da literatura romanesca. Para Thomas Clerc, leitor de Barthes, Rancière teria se deixado confundir pelo duplo caráter do pensamento barthesiano: ao mesmo tempo estruturalista e crítico. Ambos os autores, Barthes e Rancière, se empenham por recusar um pensamento pautado pela noção de representação. Nossa hipótese, porém, é a de que os autores divergem em relação ao próprio sentido da representação, tendo como consequência uma divergência também na compreensão da política, o que embasaria a crítica de Rancière à Barthes não como uma confusão, mas, antes, como uma recusa à política da escrita barthesiana. Pretendemos, com isso, reconstruir os argumentos de ambos em torno de Flaubert, para perceber a política da escrita que operam. Recusando o ponto de vista ao mesmo tempo estruturalista e desmistificador de ideologias de Barthes, Rancière aponta para uma outra leitura que vê na literatura romanesca a ruptura em relação à política da escrita do regime representativo e a configuração do regime estético.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BARBEY D’AUREVILLY, J. “M. Gustave Flaubert”. In: Les oeuvres et les hommes : IV. Les romanciers. Paris: Amyot, 1865 [Online]. Disponível em: https://obvil.sorbonneuniversite.fr/corpus/critique/barbey-aurevilly_romanciers#body-7-1 (Acessado em 8

de março de 2022).

BARTHES, R. “A câmara clara: nota sobre a fotografia”. Trad. Júlio Castañon Guimarães. 7ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

______. “Introdução à análise estrutural das narrativas”. In: A aventura semiológica. Trad. M. Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

______. “O efeito de real”. In: O rumor da língua. Trad. M. Laranjeira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012a.

______. “O grau zero da escrita”. Trad. M. M. Barahona. Lisboa: Edições 70, 2015.

______. “Por que gosto de Benveniste”. In: O rumor da língua. Trad. M. Laranjeira. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012b.

BENVENISTE, É. “Problemas de linguística geral I”. Trad. M. G. Novak e M. L. Neri. 5ª ed. Campinas: Pontes Editores, 2005.

BRETON, A. “Manifesto surrealista”. 1924 [Online]. Disponível em: http://www.ufscar.br/~cec/arquivos/referencias/Manifesto%20do%20Surrealismo%20%20Andr%20Breton.htm (Acessado em 8 de março de 2021).

CALDERÓN, A S. “Los bordes de la representación”. Theory now: journal of literature, critique and thought, Vol. 3, Nr. 1, jan.-jun. 2020, pp. 30-49.

CLERC, T. “Barthes apreendido por Rancière”. Criação & crítica, São Paulo, Nr. 14, 2015, pp. 91-104.

FLAUBERT, G. “Lettre de Flaubert à Louise Colet (1846)”. Correspondência eletrônica de Flaubert. Ed. Yvan Leclerc e Danielle Girard, 2017 [Online]. Disponível em: https://flaubert.univ-rouen.fr/jet/public/correspondance/trans.php?corpus=correspondance&id=9900&mot=&action=M (Acessado em 12 de maio de 2021).

______. “Madame Bovary”. Trad. M. Laranjeira. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011.

______. “Um coração simples”. Trad. C. M. Vaz, D. Vaz, S. K. Rickmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

FRANÇA. Le Ministère Public. “Procès de Madame Bovary. Réquisitoire de M. L’Avocat Impérial, Ernest Pinard”. Gustave Flaubert. 1857 [Online]. Disponível em: http://flaubert.univ-rouen.fr/oeuvres/mb_pinard.php (Acessado em 12 de maio de 2021).

KNACK, C. “A linguagem (re)descoberta: contornos prospectivos da leitura barthesiana de Benveniste”. Revista Linguagem e Ensino, Pelotas, Vol. 23, Nr. 3, Jul.-Set. 2020, pp. 702-719.

MOTTA, L. T.; FONTANARI, R. “Escrever ‘no grau zero’ com a luz. Sobre a semiologia barthesiana da fotografia”. Crítica cultural, Palhoça, SC, Vol. 12, Nr. 1, Jan.-jul. 2017, pp. 87-94.

MOTTA, L. T.; FONTANARI, R. “Roland Barthes in Camera Lucida, the unfaithful semiologist”. Matrizes, Vol. 6, Nr. 1 e 2, jul.-dez. 2012, pp. 161-168.

PERRONE-MOISÉS, L. “Prefácio”. In: BARTHES, R. O rumor da língua. Trad. M. Laranjeira. 3ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.

PLATÃO. “A república”. Trad. J. Guinsburg. 1ª reimp. São Paulo: Perspectiva, 2010.

PONTMARTIN, A. “Le roman bourgeois et le roman démocrate”. In: Le correspondant, pp. 289-306, 25 de junho de 1857 [Online]. Disponível em: https://flaubert.univ-rouen.fr/etudes/madame_bovary/mb_pon.php (Acessado em 9 de março de 2021).

RANCIÈRE, J. “A revolução estética e seus resultados”. In: Projeto Revoluções. São Paulo, 2011 [Online]. Disponível em: http://www.revolucoes.org.br (Acessado em 15 de maio de 2021).

______. “Le partage du sensible: esthétique et politique”. Paris: La Fabrique-éditions, 2000. Trad. port. M. C. Netto. São Paulo: Ed. 34, 2009.

______. “Les bords de la fiction”. Paris: Éditions du Seuil, 2017a. Trad. port. F. Scheibe. São Paulo: Editora 34, 2021.

______. “Aux bords du politique”. Paris: La Fabrique-éditions, 1998. Trad. J. P. Cachopo. Lisboa: KKYM, 2014.

______. “O efeito de realidade e a política da ficção”. Novos Estudos – CEBRAP, Nr. 86, 2010a, pp. 75-90.

______. “O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna”. Trad. M. Mori. São Paulo: Martins Fontes, 2017b.

______. “O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual”. Trad. L. Vale. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010b.

______. “Políticas da escrita”. Trad. R. Ramalhete, L. E. Vilanova, L. Vassalo e E. A. Ribeiro. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2017c.

______. “Sobre políticas estéticas”. Trad. M. Arranz. Barcelona: Servei de Publicacions de la Universitat Autònoma de Barcelona, 2005.

SAUSSURE, F. “Curso de linguística geral”. Trad. A. Chelini, J. P. Paes, I. Blikstein. 34ª ed. São Paulo: Cultrix, 2012.

VOIGT, A. F., MARTINS, M. M. “Arte, imagem e fotografia: um diálogo possível entre Roland Barthes, Walter Benjamin e Jacques Rancière”. Oficina do historiador, Porto Alegre, Vol. 9, Nr. 1, jan.-jul. 2016, pp. 250-264.

Downloads

Publicado

05-01-2023

Como Citar

BLANCO, D. C. . DESCRIÇÃO: EFEITO DE REAL OU EFEITO DE IGUALDADE? UM DIÁLOGO DE RANCIÈRE COM (E CONTRA) BARTHES. Revista Kriterion, [S. l.], v. 63, n. 153, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/kriterion/article/view/34007. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos