Perspectiva de Segunda Pessoa em Psicoterapia

as inovações fenomenológicas de Carl Rogers

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/1676-1669.2023.39998

Palavras-chave:

abordagem centrada na pessoa, empatia, incondicionalidade, campo fenomenal, aplicações fenomenológicas

Resumo

O estudo aponta e analisa as inovações clínicas e científicas de Carl Rogers introduzidas à psicoterapia. O foco está no papel da intersubjetividade, aqui entendida como perspectiva de segunda pessoa, mas sem desconsiderar as contribuições advindas das perspectivas de terceira (evidência experimental) e de primeira pessoa (vivência experiencial). O estudo argumenta que a relevância dada a intersubjetividade, a não-diretividade e a abertura à experiência testifica a confluência entre Rogers e o movimento fenomenológico. Tal confluência é realçada pela atenção ao exame dos fatos e fenômenos em múltiplas perspectivas, orientadas pela ética fenomenológica. Neste sentido, o grande equívoco das comparações entre a teoria de Rogers e a fenomenologia está em tomar como ponto de partida uma dada definição de fenomenologia, e não a vivência e a descrição de eventos fenomenais. Por fim, mostra-se como os estudos científicos de Rogers encontram ressonâncias em pesquisas fenomenológicas contemporâneas aplicadas à psicologia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucia Marques Stenzel, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre

Lucia Marques Stenzel é professora associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) desde 2005. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Saúde (PPG/UFCSPA) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Pará (UFPA) na linha de pesquisa Fenomenologia: Teoria e Clínica. Coordenadora da Aletheia: Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia Humanista e Existencial na UFCSPA. Atualmente com interesse em pesquisas que visam investigar o estudo da relação terapêutica nos processos psicoterápicos. Membro do GT da Anpepp Fenomenologia, Saúde e Processos Psicológicos. E-mail: lstenzel@ufcspa.edu.br

William Barbosa Gomes, UFRGS

William Barbosa Gomes é professor aposentado e Fellow Senior do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi Bolsista Produtividade CNPq de 1988 a 2019, onde chegou a Pesquisador 1A entre 2006-2019. Dedica-se, atualmente, a projetos teóricos de longa duração, entre os quais se destacam Diferenças entre Aportes Conceptuais e Estruturais na História da Psicologia, Unidade em Psicologia, e Contribuições da Fenomenologia à Ciência. E-mail: gomesw@ufrgs.br

Referências

Angus, L. E., Boritz, T., Bryntwich, E., Carpenter, N., Macaulay, C. & Khattra, J. (2017). The Narrative-Emotion Process Coding System 2.0: A multi-methodological approach to identifying and assessing narrative-emotion process markers in psychotherapy. Psychotherapy Research, 27(3), 253-269. https://doi.org/10.1080/10503307.2016.1238525

Aristóteles. (1992). Ética a Nicômacos (M. da Gama Kury, Trad.). Edunb.

Boigon M. (1956) Psychotherapy and personality changed edited by Carl R. Rogers and Rosalind F. Dymond. Book Review. The American Journal of Psychoanalysis, 16(2), 175–185.

Boring, E. G. (1929). A history of experimental psychology. The Century Co.

Brugger, W. (1987). Dicionário de filosofia (A. P. de Carvalho, Trad.). EPU.

Castelo-Branco, P. C. C. & Cirino, S. D. (2022). Carl Rogers e a Recepção da Fenomenologia na Psicologia Estadunidense. Psicologia Teoria e Pesquisa, 38, e38405. https://doi.org/10.1590/0102.3772e38405

Cook, J. M., Biyanova, T. & Coyne, J. C. (2009). Influential psychotherapy figures, authors, and books: An Internet survey of over 2,000 psychotherapists. Psychotherapy: Theory, Research, Practice, Training, 46(1), 42–51. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/a0015152

Crossley, N. (1996). Intersubjectivity: The fabric of social becoming. Thousand Oaks: Sage Publications.

Elliott, R., Greenberg, L. S. & Lietaer G. (2004). Research on Experiential Psychotherapies. In M.J. Lambert (Ed.). Bergin & Garfield‘s Handbook of psychotherapy and behavior change (pp. 493-539). Wiley.

Englander, M. (2020). Phenomenological psychological interviewing. The Humanistic Psychologist, 48(1), 54–73. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/hum0000144

Ferrater-Mora, J. (1979). Intensíon. In Diccionario de filosofia (Vol. 2, pp. 1741-1742). Alianza Editorial.

Fuchs, T. & De Jaegher, H. (2009). Enactive intersubjectivity: Participatory sense-making and mutual incorporation. Phenomenology and the cognitive sciences, 8(4), 465-486. https://doi.org/10.1007/s11097-009-9136-4

Fuchs, T. (2013). The phenomenology and development of social perspectives. Phenomenology and the Cognitive Sciences, 12(4), 655-683. https://doi.org/10.1007/s11097-012-9267-x

Fuchs, T., Messas, G. P. & Stanghellini, G. (2019). More than just description: phenomenology and psychotherapy. Psychopathology, 52(2), 63-66. https://doi.org/10.1159/000502266

Galbusera, L., Fuchs, T., Holm-Hadulla, R. M. & Thoma, S. (2022). Person-centered psychiatry as dialogical psychiatry: The significance of the therapeutic stance. Psychopathology, 55(1), 1-9. https://doi.org/10.1159/000519501

Gallagher, S. (2001). The practice of mind: Theory, simulation or primary interaction? Journal of Consciousness Studies, 8(5–7), 83–108.

Gomes, W. (2018). Communicational aspects in experimental phenomenology studies on cognition. In A. R. Smith, I. E. Catt & I. E. Klyukanov (Eds.). Communicology for the human sciences (pp. 111-131). Peter Lang.

Gomes, W. B. (2021). Pluralidade de objeto versus pluralismo de concepções em teorias psicológicas. Memorandum: Memória e História em Psicologia, 38. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2021.25462

Guareschi. P. A. (2020). Olhares do Alto: Ensaios Críticos. Evangraf.

Hart, J. T. (1970). The development of client-centered therapy. In J. T. Hart & T. M. Tomlinson (Eds.). New directions in client-centered therapy. Houghton Mifflin.

Hjelmslev L. (1961). Prologomena to a theory of language (F. J. Whitfield, Trans.). University of Wisconsin Press.

Horvath, A. O., Del Re, A. C., Flückiger, C. & Symonds D. (2011). In J. C. Norcross (Ed.). Psychotherapy relationships that work (pp. 25-69). Oxford University Press, Inc.

Janusz, B. & Peräkylä, A. (2021). Quality in conversation analysis and interpersonal process recall. Qualitative Research in Psychology, 18(3), 426-449. https://psycnet.apa.org/doi/10.1080/14780887.2020.1780356

Klinke, M. E. & Fernandez, A. V. (2022). Taking phenomenology beyond the first-person perspective: conceptual grounding in the collection and analysis of observational evidence. Phenomenology and the Cognitive Sciences, 1-21. https://doi.org/10.1007/s11097-021-09796-1

Lanigan, R. L. (1992). Communicology: An encyclopedic dictionary of the human science. In R. L. Lanigan. The Human science of communicology (pp. 197-244). Duquesne University Press Lanigan.

Mascolo, M. F. & Kallio, E. (2020) The Phenomenology of Between: An Intersubjective Epistemology for Psychological Science, Journal of Constructivist Psychology, 33(1), 1-28. https://psycnet.apa.org/doi/10.1080/10720537.2019.1635924

Merleau-Ponty, M. (1996). Fenomenologia da percepção (C. A. R. de Moura, Trad.). Martins Fontes. (Original publicado em francês em 1945)

Norcross, J. C. & Lambert, M. J. (2018). Psychotherapy relationships that work III. Psychotherapy, 55(4), 303-315. https://doi.org/10.1037/pst0000193

Parrow, K., Sommers-Flanagan, J., Cova, J. & Lungu, H. (2019). Evidence-based relationship factors: A new focus for mental health counseling research, practice, and training. Journal of Mental Health Counseling, 41, 327-342. https://doi.org/10.17744/mehc.37.2.g13472044600588r

Pienkos, E. & Messas, G. (2018). Preface to the EAWE Portuguese version: A case for a new era of phenomenological psychopathology in psychiatry and clinical psychology. Revista Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 7(2), 1-9. https://doi.org/10.37067/rpfc.v7i2.969

Puente, M. (1970). Carl R. Rogers: De la psychothérapie à l’enseignement. Epi.

Reddy, V. (2003). On being the object of attention: implications for self–other consciousness. Trends in Cognitive Sciences, 7(9), 397–402. https://doi.org/10.1016/S1364-6613(03)00191-8

Ripple, L. (1955). Book Review: Psychotherapy and personality change edited by Carl R. Rogers and Rosalind F. Dymond. Social Service Review, 29(1), 91-94. https://doi.org/10.1086/639786

Rogers C. & Dymond, R. F. (Eds.). (1954). Psychotherapy and Personality Change: Coordinated Research Studies in the Client-Centered Approach. University of Chicago Press.

Rogers C. (1959). A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships, as developed in the client-centered framework. In S. Koch (Ed.). Psychology: A Study of a science (Vol. 3, pp. 184-256). McGraw-Hill Book Company Inc.

Rogers, C. (1951). Client-Centered Therapy. Houghton Mifflin.

Rogers, C. (1967). Carl Rogers. In E. G. Boring & G. Lindzey (Eds.). A history of psychology in autobiography (pp. 341-384). Appleton-Century-Crofts.

Rogers, C. R. (1942). Counseling and Psychotherapy. Houghton Mifflin.

Rogers, C. R. (1945). The Nondirective Method as a Technique for Social Research. American Journal of Sociology, 50(4), 279–283. https://doi.org/10.1086/219619

Rogers, C. R. (1958). A process conception of psychotherapy. American Psychologist, 13(4), 142-149. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/h0042129

Rogers, C. R. (1961). On becoming a person. Houghton Mifflin.

Rogers, C. R. (1963). Toward a science of the person. Journal of Humanistic Psychology, 3(2), 72–92. https://doi.org/10.1177/002216786300300208

Rogers, C. R. (1987). Tornar-se pessoa (M. J. C. Ferreira, Trad.). Martins Fontes. (Original publicado em 1961)

Rogers, C. R. (2005). Psicoterapia e Consulta Psicológica (M.J.C. Ferreira, Trad.). Martins Fontes. (Original publicado em 1942)

Rychlak, J. F. (1981). Introduction to personality and psychotherapy. Houghton MIfflin Company.

Schmid, P. F. (2001). Acknowledgement: The art of responding. Dialogical and ethical perspectives on the challenge of unconditional personal relationships in therapy and beyond. In J. Bozard, & P. Wilkins (Eds.). Rogers Therapeutic Conditions Evolution Theory & Practice: Unconditional Positive Regard (Vol. 3, pp. 49–64). PCCS Books.

Schmid, P. F. (2003). The Characteristics of a Person-Centered Approach to Therapy and Counseling: Criteria for identity and coherence. Person-Centered & Experiential Psychotherapies, 2(2), 104-120 https://doi.org/10.1080/14779757.2003.9688301

Schmid, P. F. (2005). Facilitative responsiveness: Non-directiveness from an anthropological, epistemological and ethical perspective. In B. Levitt (Ed.). Embracing non-directivity: Reassessing person-centred theory and practice in the 21st century (pp. 74–94). PCCS Books

Smith, D. (1982). Trends in counseling and psychotherapy. American Psychologist, 37(7), 802–809. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0003-066X.37.7.802

Speigelberg H. (1972). Phenomenology in psychology and psychiatry. Northwestern UniversityPress

Stenzel, L. M. (2021). Habilidades terapêuticas interpessoais: A retomada de Carl Rogers na prática da psicologia baseada em evidências. Psicologia Clínica Psic. Clin., 33(3), 557 – 576. http://dx.doi.org/10.33208/PC1980-5438v0033n03A09

Wyatt F. & Williams J. V. (1961) Psychotherapy and Personality Change Edited by Carl R. Rogers and Rosalind F. Dymond, Book Review. International Journal of Group Psychotherapy, 11(3), 347-349. https://doi.org/10.1080/00207284.1961.11508185

Zahavi, D. (2001). Beyond empathy. Phenomenological approaches to intersubjectivity. Journal of Consciousness Studies, 8(5-7), 151–167.

Zahavi, D. (2015). Self and other: from pure ego to co-constituted we. Continental Philosophy Review, 48(2), 143-160.

Zlatev,J. (2008). The co-evolution of intersubjectivity and bodily mimesis. In J. Zlatev, T. P. Racine, C. Sinha & E. Itkonen (Eds.). The shared mind: Perspectives on intersubjectivity (pp. 215-244). NL. John Benjamins Publishing Company.

Downloads

Publicado

2023-09-11

Como Citar

Stenzel, L. M., & Gomes, W. B. (2023). Perspectiva de Segunda Pessoa em Psicoterapia: as inovações fenomenológicas de Carl Rogers. Memorandum: Memória E História Em Psicologia, 40. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2023.39998

Edição

Seção

Artigos