Etnopsicologia e compreensão da pessoa indígena
contribuições da fenomenologia e da antropologia filosófica
DOI:
https://doi.org/10.35699/1676-1669.2023.40893Palavras-chave:
etnopsicologia, fenomenologia, antropologia filosófica, pessoaResumo
Este artigo apresenta uma proposta epistêmica e metodológica de investigação e práxis etnopsicológicas com pessoas indígenas, apontando para suas contribuições na pesquisa e na assistência psicológica a essas pessoas. Inicialmente, busca contextualizar a etnopsicologia, delimitando seu campo e respectivas possibilidades de investigação e intervenção. Na sequência, explora os conceitos fenomenológicos husserlianos de epoché (o abandono de suposições ou crenças) e intencionalidade da consciência, e sua respectiva retomada no modelo metodológico de Amedeo Giorgi. Em seguida, traz a noção de pessoa dada pela antropologia filosófica de Max Scheler, diferenciando-a de outras noções hegemônicas predominantes no Ocidente e buscando apreciar sua aplicabilidade na pesquisa e no atendimento às pessoas indígenas. Discute, então, o potencial dessas duas abordagens na etnopsicologia, na medida em que ambas assumem que o conhecimento se constitui em relação, tendo como fundamento axiológico o mundo da vida das pessoas, repleto de valores, sentidos e significados existenciais.
Downloads
Referências
Amatuzzi, M. M. (2001). Pesquisa fenomenológica em Psicologia. In M. A. T. Bruns & A. F. Holanda (Orgs.). Psicologia e pesquisa fenomenológica: Reflexões e perspectivas (pp. 15-22). São Paulo.
Amatuzzi, M. M. (2009). Psicologia Fenomenológica: uma aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia, 26(1), 93-100. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2009000100010
Andrade, C. C. & Holanda A. F. (2010). Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírica fenomenológica. Estudos de Psicologia, 27(2), 259-268. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000200013
Augras, M. (1985). A Psicologia da cultura. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1(2), 99-109. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/view/16964
Bairrão, J. F. M. H. (2017). Protagonismo epistêmico dos povos indígenas: o papel da Etnopsicologia. Psicologia para América Latina (spe), 53-62. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2017000200005
Barcelos Neto, A. (2006). “Doença de Índio”: o princípio patogênico da alteridade e os modos de transformação em uma cosmologia amazônica. Campos, 7(1), 9-34. http://dx.doi.org/10.5380/cam.v7i1.5451
Barros, M. L., & Bairrão, J. F. M. H. (2010). Etnopsicanálise: embasamento crítico sobre teoria e prática terapêutica. Revista da SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, 11(1), 45-54. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v11n1/v11n1a06.pdf
Bello, A. A. (2017). Introdução à Fenomenologia. Spes.
Bibeau, G. (1995). Pari sur le virage anthropologique de la sante publique: XIII-XIV. In R. Massé, Culture et santé publique (pp. ix-xv). Gaetan Morin Editeur ltée. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://classiques.uqac.ca/contemporains/masse_raymond/culture_et_sante_publique/culture_et_sante_publique_preface.html
Borba, J. M. P. (2010). A Fenomenologia em Husserl. Revista do Nufen, 2(2), 90-111, recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912010000200007
Brentano, F (1995). O. Kraus e L. L. McAlister (Eds.), Psychology from an Empirical Standpoint com nova introdução por P. Simons (A. C. Rancurello, D. B. Terrell, & L. L. McAlister, trad.). Routledge (Original publicado em 1874).
Cardoso, M. D. (2014). Saúde e povos indígenas no Brasil: notas sobre alguns temas equívocos na política atual. Cad. Saúde Pública, 30(4), 860-866. https://doi.org/10.1590/0102-311X00027814
Cardoso, M. D. (2015). Políticas de Saúde Indígena no Brasil: do modelo assistencial à representação política. In J. E. Langdon, & M. D. Cardoso (Eds.), Saúde Indígena: políticas comparadas na América Latina. (pp. 83-106). Editora da UFSC.
Coloma, C. A. (2010). A interculturalidade na atenção à saúde dos povos indígenas. In Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região (Org.), Psicologia e povos indígenas (pp. 125-137). CRPSP. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://www.crpsp.org.br/povos/povos/livro.pdf
Conselho Nacional de Secretários da Saúde (CONASS). (2014). Nota técnica: A integração da saúde indígena no SUS: uma proposta da gestão estadual. Recuperado em 20 de Abril de 2020 de http://www.conass.org.br/wp-content/uploads/2014/04/NT-04-2014-SAU%CC%81DE-INDIGENA.pdf
Cunha, M. C. (2007). Relações e dissensões entre saberes tradicionais e saber científico. Revista USP, (75), 76-84. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i75p76-84
Darella, M. D. P. (2010). A concepção de mundo como substrato na atenção à saúde dos povos indígenas de políticas de promoção da saúde indígena. In Conselho Regional de Psicologia da 6ª região (Org.), Psicologia e povos indígenas. (pp. 117-124). CRPSP. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://www.crpsp.org.br/povos/povos/livro.pdf
De Castro, E. V. (2006). A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo, 15(14-15), 319-338. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de http://www.iea.usp.br/eventos/viveiros-floresta
De Castro, E. V. (1978). Notas sobre a cosmologia Yawalapíti. Religião e Sociedade, 3, 163-174. Recuperado em 26, dezembro, 2023, de https://religiaoesociedade.org.br/wp-content/uploads/2021/09/Religiao-e-Sociedade-N03-1978.pdf
Devereux, G. (1970). Ensayos de etnopsiquiatria general. (F. Monge, trad.). Barral editores.
Espíndula, A. G., Goto, T.A. (2019) Algumas reflexões sobre a Fenomenologia e o método fenomenológico nas pesquisas em Psicologia. In J. A. G. Espíndula (Org.), Psicologia Fenomenológica e Saúde: teoria e pesquisa. (pp.32-47). Editora da UFRR.
Ferreira, L. O. (2007). Limites e possibilidades da articulação entre as medicinas tradicionais indígenas e o sistema oficial de saúde. In L. O. Ferreira, & P. S. Osório (Org.), Medicina Tradicional Indígena em Contextos. Anais da I Reunião de Monitoramento. Projeto Vigisus II/Funasa. Brasília: Fundação Nacional de Saúde. Recuperado em 17, Março, 2020, de https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/2007_prov_42.pdf
Ferreira, L. O. (2015). Interculturalidade e saúde indígena no contexto das políticas públicas brasileiras. In E. J. Langdon, & D. M. Cardoso (Eds.), Saúde Indígena: políticas comparadas na América Latina. (pp. 217-246). Editora da UFSC. Recuperado em 20, Maio, 2020, de https://www.researchgate.net/publication/305637071_Saude_Indigena_Politicas_Comparadas_na_America_Latina
Fichte, J. G. (1973). Escritos filosóficos. O princípio da doutrina da ciência (Coleção Os Pensadores). (R. R. T. Filho, trad.). Victor Civita.
Freitas, M. H., Vilela, P. R., & Nwora, E. I. (2023). Religiosity and Indigenous Cosmology in a Brazilian Hospital Setting: The Challenges Faced by Health Professionals. Int J Lat Am Relig, 7, 46–77. https://doi.org/10.1007/s41603-023-00194-w
Garnelo, L. (2012). Política de Saúde Indígena no Brasil: notas sobre as tendências atuais do processo de implantação do subsistema de atenção à saúde. In L. Garnelo, & A. L. Pontes (Eds.), Saúde indígena: uma introdução ao tema (pp. 18-59). MEC-SECADI. Recuperado em 15, Abril, 2019, de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_indigena_uma_introducao_tema.pdf
Garnelo, L., & Maquiné, A. (2015). Financiamento e gestão do subsistema de saúde indígena: considerações à luz dos marcos normativos da administração pública no Brasil. In E. J. Langdon, & M. Cardoso (Org.), Saúde indígena. Políticas comparadas na América Latina. (pp. 107-144). UFSC. Recuperado em 20, Maio, 2019, de http://www.portal.abant.org.br/publicacoes2/livros/SaudeIndigena.pdf
Giorgi, A. (2011a). Sketch of a psychological phenomenological method. In A. Giorgi (Ed.), Phenomenology and psychological research 1931-1985. (pp. 8-22). Duquesne University Press. (Original publicado em 1985).
Giorgi, A. (2011b). The Phenomenological Psychology of learning and the verbal learning tradition. In A. Giorgi (Ed.), Phenomenology and Psychological Research 1931-1985. (pp. 23-117). Duquesne University Press. (Original publicado em 1985).
Giorgi, A. (2015). The Descriptive Phenomenological Method in Psychology – A modified Husserlian Approach. Duquesne University Press. (Original publicado em 2009).
Giorgi, A., & Souza, D. (2010). Método fenomenológico de investigação em Psicologia. Fim de Século.
Grubits, S. (2013). Desenhos e brincadeiras de crianças indígenas. Cadernos de Estudos Culturais, 5(10), 135-146. Recuperado em 26, Dezembro, 2023, de https://periodicos.ufms.br/index.php/cadec/article/view/3675.
Holanda, A. F. (2014). Humanismo e humanismos: pensar o humano na clínica. In A. F. Holanda (Ed.), Fenomenologia e humanismo: reflexões necessárias. (pp. 105-119). Juruá.
Husserl, E. (1965). A Filosofia como Ciência de Rigor (Coleção Biblioteca Filosófica). Atlântida.
Husserl, E. (1970a). Logical investigations (Vol. 1). (J. N. Findlay, trad.). Humanities Press (Original publicado em 1900).
Husserl, E. (1970b). Logical investigations (Vol. 2). (J. N. Findlay, trad.). Humanities Press (Original publicado em 1900).
Husserl, E. (1980). Ideas pertaining to a pure phenomenology and to a phenomenological philosophy - book 3 (T. E. Klein, & W. E. Pohl, trad.). Martinus Nijhoff. (Original publicado em 1971).
Husserl, E. (1983). Ideas pertaining to a pure phenomenology and to a phenomenological philosophy - book 1. (F. Kersten, trad.). Martinus Nijhoff. (Original publicado em 1913).
Husserl, E. (1989). Ideas pertaining to a pure phenomenology and to a phenomenological philosophy - book 2. (R. Rojcewicsz, & A. Schuwer, trad.) Kluwer Academic. (Original publicado em 1952).
Husserl, E. (2000). A ideia da fenomenologia (Coleção Textos Filosóficos). Edições 70. (Original publicado em 1907).
Husserl, E. (2001). Meditações Cartesianas. Introdução a Fenomenologia (F. de Oliveira, trad.). Madras editora. (Original publicado em 1931).
Husserl, E. (2008). A crise da humanidade europeia e a filosofia. (P. M. S. Alves, trad.). Lusofia. (Original publicado em 1954).
James, W. (1974). Princípios de Psicologia (P. R. Mariconda, trad.). In J. C. Souza (Org.), Os pensadores (vol. 40) (pp. 47-97). Abril S.A. Cultural e Industrial. (Trabalho original publicado em 1890).
James, W. (1981). The principles of psychology. In F. Burkhardt, F. Bowers, & I. K. Skrupskelis (Eds.), The works of William James. Harvard University Press. (Trabalho original publicado em 1890).
Ladeira, M. I. (2010). Atenção, cuidados e curas. In Conselho Regional de Psicologia da 6ª região (Org.), Psicologia e povos indígenas (pp. 159-166). CRPSP. Recuperado em 10, Março, 2019 de http://www.crpsp.org.br/povos/povos/livro.pdf
Langdon, E. J. (2007). Problematizando os Projetos de Medicina Tradicional Indígena. In L. O. Ferreira, & P. S. Osório (Org.), Medicina Tradicional Indígena em Contextos. Anais da I Reunião de Monitoramento. Projeto Vigisus II/Funasa. Fundação Nacional de Saúde. Recuperado em 15, Junho, 2019 de https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/2007_prov_42.pdf
Langdon, E. J. (1994). Representações de doença e itinerário terapêutico dos Siona da Amazônia colombiana. In R. Santos, & C. Coimbra Jr. (Org.), Saúde e povos indígenas. (pp. 115-142). Fiocruz.
Langdon, E. J. (2012). Redes xamânicas, curandeirismo e processos interétnicos: uma análise comparativa. Dossiê Amazônia: Sociedade e Natureza. 17(1), 61-84. https://doi.org/10.5433/2176-6665.2012v17n1p62
Laplantine, F. (2003). Aprender Antropologia. (M. A. Clauvel, trad.). Brasiliense. (Original publicado em 1988).
Malinowski, B. (2008). Crime e costume na sociedade selvagem. (M. C. C. Dias, trad.). Universidade de Brasília. (Original publicado em 1926).
Martins, F. (2010). Tópicos Especiais em Psicopatologia. Notas de aula. Universidade de Brasília.
Mauss, M. (1985). A category of the human mind: the notion of person; the notion of self. (W.D. Halls, trad.), In M. Carrithers, S. Collins, S. Lukes (Eds.), The category of the person. Anthropology, Philosophy, History (pp. 1-13). Cambridge University Press (Original publicado em 1938).
Mendes, A. P. M., Leite, M. S., Langdon, E. J., & Grisotti, M. (2018). O desafio da atenção primária na saúde indígena no Brasil. Rev. Panam Salud Publica, 42, e184. https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.184
Mendonça, S. B. M. (2004). Introdução à saúde indígena. Relação médico-paciente: valorizando os aspectos culturais x medicina tradicional. In R. M. Yamamoto (Org.), Manual de atenção à saúde da criança indígena brasileira (pp. 11-15). Sociedade Brasileira de Pediatria. Fundação Nacional de Saúde. Recuperado em 10, Junho, 2019 de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Mnl_Criancas.pdf
Moro, M., De La Noe, Q, & Mouchenik, Y. (Eds.). (2006). Manuel de Psychiatrie transculturelle: travail clinique, travail social. La Pensée Sauvage.
Nathan, T. (1994). L’influence qui guérit. Jacob.
Orengo, F.V., Holanda, A.F., & Goto, T. A. (2020). Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica para psicólogos brasileiros: uma compreensão empírica. Psicologia em Estudo, 25, e45065. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.45065
Pagliuso, L., & Bairrão, J. F. M. H. (2011). A Etnopsicologia e o trabalho institucional em uma unidade de abrigo. Rev. SPAGESP, 12(1), 43-55. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v12n1/v12n1a06.pdf
Pagliuso, L., & Bairrão, J. F. M. H. (2015). A Etnopsicologia: um breve histórico. In J. F. M. H. Bairrão, & M. T. A. D. Coelho (Orgs.), A Etnopsicologia no Brasil: teorias, procedimentos, resultados (pp. 26-78). EDUFBA. Recuperado em 20 de Maio de 2018 de https://repositorio.ufba.br/handle/ri/18029
Peirce, C. S. (1994). C. Hartshorne, P. Heiss, & A. Burks (Eds.). Collected Papers. Harvard University Press. (Originais publicados em 1931-1958).
Pereira, P. (2012) Limites, traduções e afetos: profissionais de saúde em contextos indígenas. Mana, 18(3), 511-538. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132012000300004
Rodrigues, D. (2011). Pajés, médicos, corpos e espíritos. Projeto Xingu. Recuperado em 21,, fevereiro, 2017 de http://www.projetoxingu.unifesp.br/index.php/acervo/publicacoes
Scheler, M. (1994). El puesto del hombre en el cosmos (J. Gaos trad.). Editorial Losada. (Original publicado em 1938).
Vilela, P. R., Freitas, M. H. (2022). Lidando com a religiosidade indígena no contexto hospitalar: impasses, desafios e perspectiva. In R. J. L. Dias, & M. H. Freitas (Orgs.), Sofrimento psíquico e sentido da vida no mundo contemporâneo: contribuições da psicologia da religião (pp. 45-70). CRV.
Wundt, W. (1926) Elementos de Psicología de los pueblos: bosquejo de una historia de la evolución psicológica de la humanidad. Luis Faure.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Memorandum: Memória e História em Psicologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os trabalhos publicados na revista eletrônica Memorandum: Memória e História em Psicologia são licenciados sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Comons - Atribuição 4.0 Internacional. 