Saberes psicológicos islâmicos

Contribuições decoloniais para a história da psicologia e da saúde mental

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.35699/1676-1669.2024.47862

Palabras clave:

Islã, decolonialidade, psicologia decolonial, psicologia islâmica, história da psicologia

Resumen

Este artigo tem como objetivo traçar, a partir de revisão de literatura, um panorama histórico e teórico da complexa interface entre psicologia, saúde mental e religião islâmica. Revelado no século VII, o Islã viveu, entre os séculos VIII e XIV, a sua chamada Era de Ouro, um período profícuo para o desenvolvimento de diversas áreas da ciência. Entre elas, destacaremos nesse texto as contribuições dadas por muçulmanos ao que nomeamos como psicologia e psiquiatria, bem como algumas concepções psicológicas oriundas da própria cosmologia islâmica, acionadas séculos depois por Frantz Fanon em seus escritos psiquiátricos datados da década de 1950. Argumenta-se que o conhecimento desses saberes psicológicos silenciados está em sintonia com a discussão decolonial, sendo uma pauta especialmente pertinente se considerarmos a urgência de se pensar a religião, o religioso e a expansão do lugar das religiosidades-espiritualidades na psicologia contemporânea.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Camila Motta Paiva, Universidade de São Paulo

Psicóloga, mestra e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (GRACIAS -- USP).

Francirosy Campos Barbosa, Universidade de São Paulo

Antropóloga, mestra e doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo. Livre-docente no Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto e do Programa de Pós em Antropologia, da Universidade de São Paulo. Coordenadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (GRACIAS-USP). Foi Visiting Scholar na University of Oxford. É Bolsista Produtividade CNPq (PQ-2).

Citas

Abu-Raiya, H. (2014). Western Psychology and Muslim Psychology in Dialogue: Comparisons Between a Qur’anic Theory of Personality and Freud’s and Jung’s Ideas. Journal of Religion and Health, 53, 326–338. https://doi.org/10.1007/s10943-012-9630-9

Al-Bar, M. A., & Chamsi-Pasha, H. (2015). Contemporary Bioethics: Islamic perspective. Springer.

Alcorão. http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/alcorao.html

Awaad, R., & Ali, S. (2015). Obsessional Disorders in al-Balkhi's 9th century treatise: Sustenance of the Body and Soul. Journal of Affective Disorders, 180, 185-189. https://doi.org/10.1016/j.jad.2015.03.003

Awaad, R., Mohammad, A., Elzamzamy, K., Fereydooni, S., & Gamar, M. (2019). Mental Health in the Islamic Golden Era: The Historical Roots of Modern Psychiatry. In H. S. Moffic, J. R. Peteet, A. Hankir, & R. Awaad (Eds.), Islamophobia and Psychiatry: Recognition, Prevention, and Treatment (pp. 3-17). Springer International Publishing.

Badri, M. (1979/2016). The dilemma of Muslim psychologists. Islamic Book Trust.

Barbosa-Ferreira, F. C. (2017). A noção de pessoa no Islã. In A. J. Peixoto, N. A. V. Zuben, T. A. Goto (Orgs.), A pessoa: da conceituação à afirmação da dignidade humana (pp. 185-192). Editora CRV.

Bakhtiar, L. (2003). Al-Ghazzali: His Psychology of the Greater Struggle. Kazi Publications.

Campanini, M. (2010). Introdução à filosofia islâmica (Plínio Freire Gomes, Trad.). Estação Liberdade. (Original publicado em 2004).

Cavalcante, L. T. C., & Oliveira, A. A. S. de. (2020). Métodos de revisão bibliográfica nos estudos científicos. Psicologia em Revista, 26(1), 83-102. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2020v26n1p82-100

Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais [CRP-MG]. (2018). Nota de orientação sobre Laicidade e Religião. https://crp04.org.br/nota-de-orientacao-sobre-laicidade-religiao/

Cunha, V. F. da., & Scorsolini-Comin, F. (2019). A Dimensão Religiosidade/Espiritualidade na Prática Clínica: Revisão Integrativa da Literatura Científica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, e35419. https://doi.org/10.1590/0102.3772e35419

Dalgalarrondo, P. (2006). Relações entre duas dimensões fundamentais da vida: saúde mental e religião [Editorial]. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28(3), 177-178. https://doi.org/10.1590/S1516-44462006000300006

Danziger, K. (1997). Naming the mind: How psychology found its language. SAGE Publications.

Dols, M. W. (1992). Majnun: The madman in medieval Islamic society. Clarendon Press.

Fanon, F. (2020). Considerações etnopsiquiátricas (Sebastião Nascimento, Trad.). In F. Fanon, Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (pp. 232-235). Ubu Editora. (Original publicado em 1955).

Fanon, F., & Azoulay, J. (2020). A socioterapia numa ala de homens muçulmanos: dificuldades metodológicas (Sebastião Nascimento, Trad.). In F. Fanon, Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (pp. 171-193). Ubu Editora. (Original publicado em 1954).

Fanon, F., & Azoulay, J. (2020). A vida cotidiana nos douars (Sebastião Nascimento, Trad.). In F. Fanon, Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (pp. 194-208). Ubu Editora. (Original publicado em 1954).

Fanon, F., & Sanchez, F. (2020). Atitude do muçulmano magrebino diante da loucura (Sebastião Nascimento, Trad.). In F. Fanon, Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (pp. 245-250). Ubu Editora. (Original publicado em 1956).

Favero, S., & Kveller, D. B. (2022). Adjetivar a Psicologia? Estudos e Pesquisas em Psicologia, 22(4), 1499-1517. https://doi.org/10.12957/epp.2022.71758

Geertz, C. (2008). A interpretação das culturas (Fanny Wrobel, Trad.). LTC. (Original publicado em 1973).

Gharipour, M. (2021). Places of Care and Healing: Contexts, Design, and Development in History. In M. Gharipour (Ed.), Health and Architecture: The History of Spaces of Healing and Care in the Pre-Modern Era (pp. 1-22). Bloomsbury Publishing.

Gonçalves, M. A. (2019). Psicologia favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em Psicologia. Mórula Editorial.

Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Sociedade e Estado, 31(1), 25–49. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003

Hamès, C. (2007). Coran et talismans: textes et pratiques magiques en milieu musulman. Karthala.

Haque, A., & Rothman, A. (2021). Islamic Psychology around the globe. International Association of Islamic Psychology Publishing.

Hourani, A. (2007). Uma História dos povos árabes (Marcos Santarrita, Trad.). Companhia das Letras.

Jacó-Vilela, A. M. (2012). História da Psicologia no Brasil: uma narrativa por meio de seu ensino. Psicologia: Ciência e Profissão, 32(esp.), 28–43. https://doi.org/10.1590/S1414-98932012000500004

Lacerda Jr, F. (2018). Historicizar para libertar: a proposta de Psicologia da Libertação. In F. T. Portugal, C. Facchinetti, & A. C. Castro (Orgs.), História social da psicologia (pp. 55-81). Nau Editora.

Marsella, A. J. (2013). All psychologies are indigenous psychologies: Reflections on psychology in a global era. https://indigenouspsych.org/Discussion/forum/All%20psychologies%20are%20indigenous%20psychologies.pdf

Martín-Baró, I. (1997). O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia, 2(1), 7–27. https://doi.org/10.1590/S1413-294X1997000100002

Massimi, M. (2016). História dos saberes psicológicos. Paulus.

Mauss, M. (2015). Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu” (Paulo Neves, Trad.). In M. Mauss, Sociologia e antropologia (pp. 365-395). 2ª ed. Cosac Naify. (Original publicado em 1938).

Mitha, K. (2020). Conceptualizing and addressing mental disorders amongst Muslim communities: Approaches from the Islamic Golden Age. Transcultural Psychiatry, 57(6), 763–774. https://doi.org/10.1177/1363461520962603

Noguera, R. Apresentação. Fanon: uma filosofia para reexistir. In F. Fanon, Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos (pp. 7-19). Ubu Editora.

Paiva, G. J. de. (2002). Perder e recuperar a alma: tendências recentes na psicologia social da religião norte-americana e europeia. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(2), 173–178. https://doi.org/10.1590/S0102-37722002000200007

Paiva, C. M. (2022). Corpo, mente e coração: saúde mental de mulheres muçulmanas brasileiras. [Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/T.59.2023.tde-10032023-075246

Paiva, C. M., & Barbosa, F. C. (2019). Arranjos entre religião, sexualidade e saúde mental: concepções e experiências de mulheres muçulmanas. Revista do NUPEM, 11(24), 19-34. https://doi.org/10.33871/nupem.v11i24.667

Pasha-Zaidi, N. (2021). Indigenizing an Islamic psychology. Psychology of Religion and Spirituality, 13(2), 194–203. https://doi.org/10.1037/rel0000265

Pereira, F. N., Dalgolbo, C. G., & Silva, M. O. da. (2021). Revolução budista ou apocalipse zumbi? Discussões sobre mindfulness a partir de uma perspectiva gestáltica. Psicologia USP, 32, e200146. https://doi.org/10.1590/0103-6564e200146

Pérez, J., Baldessarini, R. J., Undurraga, J., & Sánchez-Moreno, J. (2012). Origins of psychiatric hospitalization in medieval Spain. Psychiatric Quarterly, 83(4), 419–430. https://doi.org/10.1007/s11126-012-9212-8

Pessotti, I. (1994). A loucura e as épocas. Editora 34.

Portugal, F. T., Facchinetti, C., & Castro, A. C. (2018). Por que fazer uma História Social da Psicologia? In F. T. Portugal, C. Facchinetti, & A. C. Castro (Orgs.), História social da psicologia (pp. 11-22). Nau Editora.

Ragab, A. (2015). The medieval Islamic hospital: medicine, religion, and charity. Cambridge University Press.

Rahman, F. (1987). Health and medicine in the Islamic tradition. Crossroad.

Rojo, J. T., & Porcel, M. C. (2011). El jardín hispanomusulmán: Los jardines de al-Andalus y su herencia. Editorial Universidad de Granada.

Rother, E. T. (2007). Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista De Enfermagem, 20(2), v–vi. https://doi.org/10.1590/S0103-21002007000200001

Rothman, A., Ahmed, A., & Awaad, R. (2022). The Contributions and Impact of Malik Badri: Father of Modern Islamic Psychology. American Journal of Islam and Society, 39(1-2), 190–213. https://doi.org/10.35632/ajis.v39i1-2.3142

Rothman, A., & Coyle, A. (2018). Toward a Framework for Islamic Psychology and Psychotherapy: An Islamic Model of the Soul. Journal of Religion and Health, 57, 1731–1744. https://doi.org/10.1007/s10943-018-0651-x

Rothman, A., & Coyle, A. (2020). Conceptualizing an Islamic psychotherapy: a grounded theory study. Spirituality in Clinical Practice, 7(3), 197–213. https://doi.org/10.1037/scp0000219

Said, E. (2007). Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente (Rosaura Eichenberg, Trad.). Companhia das Letras. (Original publicado em 1978).

Saldanha, M., & Nardi, H. C. (2016). Uma psicologia feminista brasileira? Sobre destaque, apagamento e posição periférica. Revista Psicologia Política, 16(35), 35-52. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2016000100003

Scorsolini-Comin, F. (2018). "É como mexer em um vespeiro": a consideração das religiões afro-brasileiras no cuidado em saúde. Revista da SPAGESP, 19(1), 1-5. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702018000100001&lng=pt&nrm=iso

Seedat, M. (2021). Signifying Islamic psychology as a paradigm: A decolonial move. European Psychologist, 26(2), 131–141. https://doi.org/10.1027/1016-9040/a000408

Serbena, C. A., & Raffaelli, R. (2003). Psicologia como disciplina científica e discurso sobre a alma: problemas epistemológicos e ideológicos. Psicologia em Estudo, 8(1), 31–37. https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000100005

Shah, M. (2017). Islamic conceptions of dignity: Historical trajectories and paradigms. In R. Debes (Ed.), Dignity: A History (pp. 99-126). https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199385997.003.0006

Shahid, S. M. (2016). Psychological foundation of the Qur’an: Islamic mental health directions presented 1430 years ago. Xlibris.

Skinner, R. (2019). Traditions, paradigms and basic concepts in Islamic Psychology. Journal of Religion and Health, 58, 1087–1094. https://doi.org/10.1007/s10943-018-0595-1

Teixeira-Filho, F. S., Peres, W. S., Rondini, C. A., & Souza, L. L. de. (2013). Queering: problematizações e insurgências na psicologia contemporânea. EDUFMT.

Toniol, R. (2022). Espiritualidade incorporada: pesquisas médicas, usos clínicos e políticas públicas na legitimação da espiritualidade como fator de saúde. Zouk.

Utz, A. (2011). Psychology from the Islamic perspective. International Islamic Publishing House.

Veiga, L. M. (2019). Descolonizando a psicologia: notas para uma Psicologia Preta. Fractal: Revista de Psicologia, 31, 244-248. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i_esp/29000

Vergès, F. (2020). Um feminismo decolonial (Jamille Pinheiro Dias; Raquel Camargo, Trad.). Ubu Editora.

Publicado

2024-11-04

Cómo citar

Paiva, C. M., & Barbosa, F. C. (2024). Saberes psicológicos islâmicos: Contribuições decoloniais para a história da psicologia e da saúde mental. Memorandum: Memória E História Em Psicologia, 41, e47862. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2024.47862

Número

Sección

Artigos