Traduzir o intraduzível: o caso das partículas gregas

Autores

  • Simone Bondarczuk Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brasil

Palavras-chave:

tradução, tradição, “intraduzível”, partículas gregas

Resumo

Na contramão do “dogma da intraduzibilidade” linguística de Jakobson (1959), este artigo se propõe a discutir a questão da possibilidade de ser do estrangeiro, no acolhimento proporcionado pela hospitalidade linguística sob o viés da tradução, sob a ótica da ressignificação do mito de Babel proposta por Ricœur (2012). Nessa perspectiva, o tradutor – como mediador ativo desse processo de aproximação do estrangeiro (autor, obra, sua língua) ao leitor – redescobre o seu lugar próprio em um projeto universal de humanização. A tradução como processo de humanização visa produzir semelhanças cujo escopo é identificar o si mesmo como um outro. As partículas gregas constituem um exemplo emblemático de uma classe de palavras típica da coloquialidade do Grego Antigo – atualmente conhecidas como marcadores discursivos –, que, no entanto, foi desprezada por uma tradição gramatical pautada nas categorias aristotélicas e na suposta correspondência um-a-um dos semantemas, impossível de ser mantida nesse caso. Sendo assim, as partículas gregas são apresentadas de modo a exemplificar a classe dos chamados tradicionalmente “intraduzíveis”: não no sentido daquilo que não se pode traduzir, ao qual se nega a possibilidade de tradução, mas como uma classe de palavras que, a despeito do desprezo da tradição clássica, insistimos em traduzir de muitas maneiras distintas, já que se trata de palavras cujos sentidos são discursivamente determinados e de baixo valor conteudístico.

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Publicado

2019-02-21

Como Citar

Bondarczuk, S. (2019). Traduzir o intraduzível: o caso das partículas gregas . Nuntius Antiquus, 14(2), 91–109. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/17065

Edição

Seção

Dossiê Seminários do NEAM