Plautinismos e Suassunismos em O santo e a porca
Palavras-chave:
Plauto, Aululária, Ariano Suassuna, O santo e a porca, ilusão dramática.Resumo
O presente artigo tem como objetivo ler a comédia de Suassuna por meio de um olhar de plautinistas. A intenção aqui não será apontar todos os pontos em comum entre O santo e a porca e seu modelo plautino, a Aululária, mas sim discutir alguns dos mais importantes deles, na medida em que nos auxiliem em duas questões. De um lado, pretende-se evidenciar alguns efeitos dramáticos específicos, resultantes da mescla de motivos brasileiros com os da comédia romana. De outro lado, levando em conta o fato de que também Plauto imitava comédias gregas (adaptando-as, dentro do gênero da fabula palliata, ao público romano coevo), o objetivo central do artigo é observar até que ponto algumas características do texto e da performance atribuídas pela crítica moderna ao dramaturgo romano também se apresentam na peça brasileira, e, em caso positivo, com que efeito. Ao demonstrar que Suassuna emula também o modus imitandi de Plauto, nossa expectativa é de que esta investigação da intertextualidade entre as obras, considerando o modo como Suassuna sublinha ou mascara sua inspiração plautina, possa contribuir para lançar luzes sobre sua própria poética “nordestina”, que envolve a questão do engano cômico e sua relação com a ilusão dramática.
Downloads
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Ariano Suassuna: Bibliografia. Disponível em: http://www.academia.org.br/academicos/ariano-suassuna/bibliografia. Acesso em: 20 dez. 2016.
ANDERSON, W. S. Barbarian play: Plautus’ Roman Comedy. Toronto: University of Toronto Press, 1993.
BOLDRINI, S. Il santo e la scrofa: un’imitazione di Plauto nel Nordest brasiliano. Materiali e discussioni per l’analisi dei testi classici, Pisa, v. 14, p. 251-270, 1985.
CARDOSO, I. T. Ilusão e engano em Plauto. In: CARDOSO, Z. A.; DUARTE, A. S. (Org.). Estudos sobre o Teatro Antigo. São Paulo: Alameda, 2010. p. 95-126.
CARDOSO, I. T. Trompe l’oeil: Philologie und Illusion. Göttingen: Vienna University Press bei V&R Unipress, 2011.
DUCKWORTH, G. E. The Nature of Roman Comedy. Princeton, N.J.: University Press, 1952.
FARIA J. R. (Org.). História do teatro brasileiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012 (v. 2).
FERNANDES, N. Os grupos amadores. In: FARIA J. R. História do teatro brasileiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012. v. 2, p. 57-80.
FRAENKEL, E. [rev. 1922]. Elementi plautini in Plauto. Firenze: La Nuova Italia, 1960.
GONÇALVES, R. T. Comédia latina: a tradução como reescrita do gênero. PhaoS, Campinas, v. 9, p. 117-142, 2009.
HANDLEY, E. W. Menander and Plautus: A Study in Comparison. An Inaugural Lecture Delivered at University College. London, 5 February 1968.
IBGE. Atlas das representações literárias do Brasil: os sertões brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. v. 2.
KONSTAN, D. Roman Comedy. Ithaca/London: Cornell University Press, 1983.
LINS, O.; SUASSUNA, A. Lisbela y el prisionero; El santo y la chancha. Trad. Ana María Merlino de Piacentino e Montserrat Mira. Buenos Aires: Losangue, 1966.
LEVIN, O. M. O teatro dos escritores modernistas. In: FARIA, J. R. (Org.). História do teatro brasileiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012. v. 2, p. 43-56.
MAURICE, L. Contaminatio and Adaptation: The Modern Reception of Ancient Drama as an Aid to Understanding Roman Comedy. In: BAKOGIANNI, A. (Org.). Dialogues with the Past: Classical Reception Theory & Practice. London: Institute of Classical Studies, 2013. v. 2, p. 445-465.
MOORE, T. J. The Theater of Plautus: Playing to the Audience. Austin: Univ. of Texas Press, 1998.
PETRONE, G. Teatro antico e inganno: finzioni plautine. Palermo: Palumbo, 1983.
PLAUTI, Titi Macci. Comoediae. Edited by W. M. Lindsay. Oxford: Clarendon Press, 1955-1956. v. 1-2.
PLAUTO. A comédia da panela (“Aulularia”): comédia em cinco atos. Trad., adaptação e introdução [com base em Plauto] de J. D. Dezotti. Araraquara: UNESP, 1996.
PLAUTO; TERêNCIO. A comédia latina (Anfitrião, Aululária, Os cativos, O gorgulho); (Os adelfos, O eunuco). Trad. Agostinho da Silva. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora Globo, 1952.
PLAUTO. Anfitrião. Trad. e introdução de L. N. Costa. Campinas: Mercado de Letras, 2013a.
PLAUTO. Aulularia (“A marmita”). Trad. Barão de Paranapiacaba. Rio de Janeiro: Typographia Chrysalida, 1888.
PLAUTO. Aulularia (A comédia da panelinha). Trad. A. Costa. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.
PLAUTO. Cásina. Introdução e trad. C. M. Rocha. Campinas: Mercado de Letras, 2013b.
PLAUTO. Estico de Plauto. Trad., introdução e notas de I. T. Cardoso. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
PLAUTUS. Aulularia. Edited by W. Stockert. Stuttgart: Teubner, 1983.
PLAUTUS. Bacchides. Edited with Trans. and Commentary by J. Barsby. Warminster: Aris & Phillips, 1986.
PLAUTUS, T. M. Menaechmi. Edited by A. S. Gratwick. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.
POCIÑA LÓPEZ, A. J. Pervivência de Plauto en la literatura brasileña: la comédia O santo e a porca de Ariano Suassuna. Florentia Iliberritana: Revista de Estudios de Antigüedad Clásica, Granada, v. 7, p. 291-298, 1996.
ROSIVACH, V. J. When a Young Man Falls in Love: The Sexual Exploitation of Women in New Comedy. London: Routledge, 1998.
dos SANTOS, I. M. F. Em demanda da poética popular: Ariano Suassuna e o Movimento Armorial. 2a. ed. rev. Campinas: Editora da Unicamp, 2009.
SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1957.
SUASSUNA, A. Historia o milosiernej czyli testament psa (“Auto da Compadecida”). Trad. Witold Wojciechowski e Danuta Zmij. Dialog: miesie|cznik poświe|cony dramaturgii współczesnej teatralnej, filmowej, radiowej, telewizyjnej. Varsóvia, ano IV, n. 10 (42), p. 24-64, outubro de 1959.
SUASSUNA, A. Das Testament de Hundes oder das Spiel von Unserer Lieben Frau der Mitleidvollen (“Auto da Compadecida”). Trans. Willy Keller. Berlin: Kiepenheuer, 1962.
SUASSUNA, A. The Rogue’s Trial (“O auto da compadecida”). Trans. Dillwyn F. Ratcliff. Berkeley/Los Angeles: University of California Press, 1963.
SUASSUNA, A. Uma mulher vestida de sol. Recife: Imprensa Universitária, 1964a.
SUASSUNA, A. O santo e a porca: imitação nordestina de Plauto. Recife: Imprensa Universitária, 1964b.
SUASSUNA, A. Auto de la Compadecida. Adapted and trans. by José María Pemán. Madrid: Ediciones Alfil, 1965.
SUASSUNA, A. Het testament van den hond (“Auto da Compadecida”). Trans. Joseph Jacobus van den Besselaar. Nederlandse, Ons Leekenspel: Bussum, 1966.
SUASSUNA, A. Le jeu de la Miséricordieuse ou Le testament du chien (“Auto da Compadecida”). Trad. Michel Simon. Paris: Gallimard, 1970.
SUASSUNA, A. A pena e a lei. Rio de Janeiro: Agir, 1971.
SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. Trans. L. Lotti. Forli: Nuova Compagnia, 1992.
SUASSUNA, A. Testamant ar hi lakaet (“Auto da Compadecida”).
Trans. Remi Derrien. Brest: Emgleo Breiz, 1999.
SUASSUNA, A. A farsa da boa preguiça. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
SUASSUNA, A. O santo e a porca; O casamento suspeitoso. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.
TREVIZAM, M. Elementos plautinos em “O santo e a porca”, de Ariano Suassuna. Aletria, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p. 137-154, jan.-abril de 2014.
VASSALO, L. O sertão medieval: origens europeias do teatro de Ariano Suassuna. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993.
VOGT-SPIRA, G. Plauto fra teatro grego e superamento della farsa itálica – proposta di un modelo triadico. Quaderni Urbinati di Cultura Classica, Pisa, v. 58, n. 1, p. 111-135, 1998.
WILLIAMS, B. Games People Play: Metatheatre as Performance Criticism in Plautus’ “Casina”. Ramus: Critical Studies in Greek and Roman Literature, Victoria (Australia), v. 22, n. 1, p. 33-59, 1993.