A presença da guerra nos símiles de proteção materna da Ilíada
Palavras-chave:
Ilíada, público, referencialidade tradicional, símileResumo
Os símiles homéricos não devem ser considerados como elementos destacáveis das narrativas homéricas, mas fortemente vinculados a ela pelos temas que expressam e pelos contextos em que sua inserção ocorre. Por meio da linguagem poética tradicional que os compõe, eles dizem mais do que está explícito na imagem apresentada, pois tendem a possuir um “pano de fundo” implícito que é projetado pelo uso recorrente de certos elementos imagéticos e que, graças à sua tradicionalidade, transmite um significado coeso. Os símiles homéricos que têm como tema a proteção materna têm sido lidos como ternos e próximos do cotidiano do receptor. Essa leitura, no entanto, foi questionada na análise do símile em Il. 16. 7-10 (Pátroclo é comparado a uma menina que chora), para o qual se defendeu uma mãe que foge dos soldados que saqueiam uma cidade e capturam as mulheres e crianças (GACA, 2008). Partindo desse pano de fundo, o presente artigo visa propor uma projeção tradicional semelhante para os símiles em Il. 4. 130-131 (Atena protege Menelau como mãe protege um filho) e Il. 271 (Teucro se abriga atrás de Ájax como filho embaixo da mãe).
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