Orfeu necrófilo, de Marie Bonaparte

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/1983-3636.2025.58492

Palavras-chave:

Incesto, Necrofilia, Orfeu, Recepção

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar, à luz dos estudos da recepção, como a concepção do mito de Orfeu, da tradição clássica em Geórgicas de Virgílio e Metamorfoses de Ovídio, foi recebida e interpretada no trabalho de Marie Bonaparte intitulado La faute d'Orphée à l'envers (A culpa de Orfeu ao reverso). A tese principal da autora é que a força da evocação de Orfeu por sua amada, a ninfa Eurídice, indo buscá-la no mundo dos mortos e sua desobediência à lei de não olhar para trás até que estivessem totalmente seguros no mundo dos vivos, repousa nos sentimentos inquietantes causados pelos tabus do Incesto e da necrofilia. Dessa forma, através da recepção centrada no leitor implícito e na consciência receptiva, destaca-se a construção de sentido no processo de leitura dos textos antigos. Afinal, o fato de Eurídice ser por duas vezes um cadáver é um atributo essencial do objeto de amor para Orfeu.

Biografia do Autor

  • Sarug Dagir Ribeiro, Universidade Federal do Tocantins (UFT), Miracema do Tocantins, Tocantins / Brasil

    Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais

    Mestra em Letras (Pós-Lit/UFMG), Psicóloga Clínica

    Professora Adjunta do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Tocantins - UFT 

Referências

ABRANTES, Miguel Rúben F. C. As Argonáuticas Órficas e sua possível ligação às Argonáuticas de Apolónio de Rodes. Boletim de Estudos Clássicos, n. 61, p. 37- 51, 2016. DOI: https://doi.org/10.14195/2183-7260_61_2.

AGGRAWAL, Anil. Necrophilia in Greek Mythology. In: AGGRAWAL, Anil. Necrophilia: forensic and medico-legal aspects. New York: CRC Press, 2011, p. 4-7.

AMOUROUX, Rémy. (ed.). Marie Bonaparte et Sigmund Freud: correspondance intégrale (1925-1939). Tradução de Olivier Manonni. Paris: Flammarion, 2022.

AMOUROUX, Rémy. Marie Bonaparte: entre biologie et freudisme. Rennes: Presses Universitaires de Rennes éditions, 2012.

ARIÉS, Philippe. Sobre a história da morte no Ocidente desde a Idade Média. Lisboa: Teorema, 1989a.

ARIÉS, Philippe. O homem diante da morte. Trad. Luiza Ribeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, v.1, 1989b.

APOLLONIOS DE RHODES. Argonautiques: Tome I: chant I-II. Tradução de Émile Delage. Paris: Les Belles Lettres, 1974.

BERTIN, Célia. A última Bonaparte. Tradução de Rachel Meneguello. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

BIGNONE, Ettore. Historia de la literatura latina. Tradução de Gregorio Halperín. Buenos Aires: Editorial Losada, 1952.

BIZ, Ricardo. Por que Orfeu? Ide, v. 46, n. 78, p. 199-200, 2024. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/pdf/ide/v46n78/0101-3106-ide-46-78-0199.pdf. Acesso em: 23 de maio de 2025

BLANCHOT, Maurice. L’Espace littéraire. Paris: Gallimard, 1955.

BLESCHET, Emilie. Les représentations du mythe d’Orphée du XVIe au XIXe siècle. 2016. 80 f. (Dissertação) – Master "Culture de l'écrit et de l'image", École Nationale Supérieure des Sciences de l’Information et des Bibliothèques, Université de Lyon, Lyon, 2016.

BONAPARTE, Marie. La faute d'Orphée à l'envers. Revue Française de Psychanalyse, v. 17, n. 3, p. 221-228, 1953.

BONAPARTE, Marie. Deuil, nécrophilie et sadisme. Revue Française de Psychanalyse, v. 4, n. 4, p. 716-734, 1930.

BONAPARTE, Marie. Saint Christophe, patron des automobilistes. In: BONAPARTE, Marie. Psychanalyse et Biologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1952a. p. 124-145.

BONAPARTE, Marie. La légende des eaux sans fond. In: BONAPARTE, Marie. Psychanalyse et Biologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1952b. p. 89-98.

BONAPARTE, Marie. Notes sur la découverte analytique d’une scène primitive. In: BONAPARTE, Marie. Psychanalyse et Biologie . Paris: Presses Universitaires de France, 1952c. p. 146-152.

BONAPARTE, Marie. L’Identification d’une fille à sa mère morte. Revue Française de Psychanalyse, v. 2, n. 3, p. 541-568, 1928.

BONAPARTE, Marie. La Sexualité de la femme. Paris: Presses Universitaires de France, 1967.

BOURGERON, Jean-Pierre. Marie Bonaparte. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. v. 2. Petrópolis: Vozes, 1987.

BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1991.

BRANDÃO, Junito de Souza. Teatro grego: tragédia e comédia. Petrópolis: Vozes, 1984.

BURKERT, Walter. Mito e Mitologia. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Edições 70, 1991

COLAVITO, Jason. The Orphic Argonautica. [s. l.]: Lulu Press, 2011. Disponível em: https://topostext.org/work/549. Acesso em: 24 de abril de 2025.

DELORME, Suzanne. Orphée, cet analyste. Insistance, n. 2, p. 153-169, 2006.

ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. Tradução de Pola Civelli. São Paulo: Perspectiva, 2000.

FARIA, Ernesto. Gramática da língua latina. 2a ed. Revisão de Ruth Junqueira de Faria. Brasília: FAE, 1995.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Tradução de J. Salomão. v. 7, Rio de Janeiro: Imago, 1974a. p. 129-238.

FREUD, Sigmund. Totem e tabu. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Tradução de J. Salomão. v. 13. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 17-193.

FREUD, Sigmund. O esclarecimento sexual das crianças. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Tradução de J. Salomão. v. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1974b. p.137-147.

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos sonhos. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Tradução de J. Salomão. v. 5. Rio de Janeiro: Imago, 1972. p. 460-639.

GRIMAL, Pierre. The Dictionary of Classical Mythology. Blackwell Publishing: Malden, 1996.

GRAVES, Robert. Greek Myths. London: Cassell, 1958.

HARDWICK, Lorna. Reception Studies. Oxford: Oxford University Press, 2003.

HERODOTUS. The Histories. Traduzido por A. D. Godley. v. 1. Cambridge: Harvard University Press, 1920.

ISER, Wolfgang. O ato da leitura: Uma teoria do efeito estético. v. 1. São Paulo: Editora 34: 1996.

ISER, Wolfgang. O ato da leitura: Uma teoria do efeito estético. v. 2. São Paulo: Editora 34: 1999.

ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In: JAUSS, Robert Hans et al. A literatura e o leitor. Traduzido por Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 122-135.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de Sergio Tellaroli. São Paulo: Àtica, 1994.

JAUSS, Hans Robert. Literaturgeschichte als Provokation. Frankfurt: Suhrkamp, 1970.

JAUSS, Robert Hans. A literatura e o leitor. Traduzido por Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

JONES, Ernst. On the Nightmare. London: The Hogarth Press, 1931.

QUINET, Antônio. Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

LAPLANCHE, Jean. Vida e morte em psicanálise. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

LEFKOWITZ, Mary R. The Lives of the Greek Poets. 2nd ed. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1999.

MARTINDALE, Charles. Reception. In: KALLENDORF, Craig. A Companion to the Classical Tradition. EUA: Blackwell Publishing, 2007. p. 297-311.

MARTINDALE, Charles. Redeeming the Text: Latin Poetry and the Hermeneutics of Reception. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

MARTINDALE, Charles.; THOMAS, Richard. (ed.). Classics and the Uses of Reception. Oxford: Blackwell Publishing, 2006.

MALHADAS, Daise; DEZOTTI, Maria Celeste C.; NEVES, Maria Helena de M. (Coords.) Dicionário Grego-Português. 2a edição. Cotia: Ateliê Editorial, 2022.

NÜNLIST, René. The Ancient Critic at Work: Terms and Concepts of Literary Criticism in Greek Scholia. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

OVÍDIO. Metamorfoses. Tradução, introdução e notas de Domingos Lucas Dias. Apresentação de João A. Oliva Neto. Edição Bilíngue. São Paulo: Editora 34, 2017.

PARTHENIUS LONGUS. Daphnis and Chloe. Love Romances and Poetical Fragments. Fragments of the Ninus Romance. Tradução de George Thornley, J. M. Edmonds, S. Gaselee. v. 69. Cambridge: Harvard University Press, 1916.

PENNA, Heloísa Maria Moraes Moreira. O canto de Orfeu em dísticos elegíacos: lamento e exaltação no prefácio II de O rapto de Prosérpina. Nuntius Antiquus, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 181-191, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/17069/13840 Acesso: 24 de abril de 2025.

PLATÃO. Górgias. Tradução, ensaio introdutório e notas de Daniel R. N. Lopes. Edição Bilíngue. Obras II. Texttos 19. São Paulo: Perspectiva, 2011.

POE, Edgar Allan. Os assassinatos da rua Morgue e O escaravelho de ouro. Tradução de Júlio Mendonça. São Paulo: Scipione, 1999.

REALE, Giovanni. Pré-socráticos e orfismo. História da Filosofia Grega e Romana. v. 1. Tradução de Marcelo Perine. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012.

ROUDINESCO, Élisabeth. Entrevista a Philippe Sollers: sobre a História da psicanálise na França. In: ROUDINESCO, Élisabeth. Em defesa da psicanálise: ensaios e entrevistas. Apresentação de Marco Antônio Coutinho Jorge. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 137-154.

SADE, Marquês de. Os 120 dias de Sodoma ou A escola da libertinagem. Tradução de Alain François. São Paulo: Iluminuras, 2013.

SALEMA, Vivian de Azevedo Garcia. O mito de Orfeu nas Metamorfoses de Ovídio. PRINCIPIA, n. 29, 2014, p. 1–8, 2014. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/principia/article/view/13982 . Acesso em: 22 de maio de 2025.

SANO, Lucia. Recepção clássica no Brasil: entre o local, o universal e o global. Nuntius Antiquus, v. 20, n. 1, p. 1-35, 2024. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/52542/44585. Acesso em: 22 de maio de 2025.

SOPHOCLE. Théâtre de Sophocle: Ajax; Antigone; Electre; Oedipe Roi. Tradução, introdução e notas de Robert Pignarre. Paris: Librarie Garnier Frères, 1947.

VASCONCELLOS, Paulo Sérgio de. Recepção e intertextualidade: convergências e divergências. Nunt. Antiquus, Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 1-47, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/44104/38836. Acesso em: 12 de dezembro de 2024.

VERMEULE, Emily. Aspects of Death in Early Greek Art and Poetry. Berkeley: University California Press, 1981.

VERNANT, Jean-Pierre. L’individu, la mort, l’amour. Soi-même et l’autre en Grêce ancienne. Paris: Gallimard; 1992.

VIRGÍLIO. Geórgicas. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Organização por Paulo S. de Vasconcellos. Edição anotada e comentada pelo Grupo de Tradução Odorico Mendes. Edição Bilíngue. Cotia: Ateliê Editorial, 2019.

WARNING, Rainer. Rezeptionsästhetik. München: Fink, 1975.

ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

Downloads

Publicado

2025-10-29

Edição

Seção

Dossiê: Abordagens à recepção dos Clássicos

Como Citar