Recepção dos clássicos em Machado de Assis

ecos homéricos de Helena e Penélope na caracterização de Capitu

Autores

Palavras-chave:

intertextualidade, recepção, Machado de Assis, Homero, Helena, Penélope, Capitu

Resumo

O presente artigo se propõe a analisar o diálogo entre a obra de Machado de Assis e os poemas de Homero, mais especificamente os ecos das personagens Helena e Penélope detectados na construção de Capitu, do romance Dom Casmurro. (In)fidelidade, natureza ambígua e condição liminar definem as três personagens. Entretanto, Capitu, ao contrário das personagens homéricas, não pertence a um enredo que apresenta a resolução de sua liminaridade. Um dos motivos para isto, segundo o que se pretende argumentar neste artigo, é a complexa combinação das heroínas homéricas cuja memória pode ser rastreada na construção de Capitu, que revela uma mistura de elementos delas característicos, como a dissimulação e a sedução.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, G. Ninfas. Tradução de Renato Ambrosio. São Paulo: Hedra, 2012.

ASSIS, M. Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2011.

ASSIS, M. Obra Completa em Quatro Volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 1.

AUSTIN, N. Helen of Troy and Her Shameless Phantom. Ithaca: Cornell University Press, 1994.

BLONDELL, R. Bitch that I Am: Self-Blame and Self-Assertion in the Iliad. Transactions of the American Philological Association, Baltimore, MD, v. 140, n. 1, p. 1-32, 2010. DOI: https://doi.org/10.1353/apa.0.0048.

BRANDÃO, J. A Grécia de Machado de Assis. Kleos, Rio de Janeiro, n. 5/6, p. 125-144, 2001/2002.

CALDWELL, H. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis: um estudo de Dom Casmurro. Tradução de Fábio Fonseca de Melo. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.

CANEVARO, L. G. Women of Substance in Homeric epic. Oxford: Oxford University Press, 2018. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780198826309.001.0001.

CARDOSO, A. C. A. Um discurso truncado: a tradição sentimental em Dom Casmurro. Machado de Assis em Linha, São Paulo, ano 4, n. 7, p. 46-62, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-68212011000200002

DUARTE, A. da S. Cenas de reconhecimento na poesia grega. Campinas: Edunicamp, 2012.

EURÍPIDES. Duas tragédias gregas: Hécuba e Troianas. Tradução de C. Werner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

FOWLER, D. On the Shoulders of Giants: Intertextuality and Classical Studies. Materiali e Discussioni Per l’Analisi dei Testi Classici, [S.l.],

n. 39, p. 13-34, 1997. DOI: https://doi.org/10.2307/40236104.

GRETHLEIN, J. Homeric Motivation and Modern Narratology: The Case of Penelope. Cambridge Classical Journal, Cambridge, v. 64, p. 1-21, 2018. DOI: https://doi.org/10.1017/S1750270517000136.

HARDWICK, L. Reception Studies. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

HOMERO. Ilíada. Tradução de C. Werner. São Paulo: Ubu, 2018a.

HOMERO. Odisseia. Tradução de C. Werner. São Paulo: Ubu, 2018b.

LESSER, R.H. Female Ethics and Epic Rivalry: Helen in the Iliad and Penelope in the Odyssey. American Journal of Philology, Baltimore, MD, v. 140, n. 2, p. 189-226, 2019. DOI: https://doi.org/10.1353/ajp.2019.0013.

MALTA, A. A astúcia de ninguém: ser e não ser na Odisseia. Belo Horizonte: Impressões de Minas, 2018.

MALTA, A. Metapoesia e a Helena de Homero. Nuntius Antiquus, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, p. 13-25, 2016b. DOI: https://doi.org/10.17851/1983-3636.12.1.13-25.

MALTA, A. Por que Penélope menciona Helena? Relendo Odisseia, XXIII, 209-230. Revista Classica, Rio de Janeiro, v. 29, n. 1, p. 193-203, 2016a. DOI: https://doi.org/10.24277/classica.v29i1.413.

OLIVEIRA, E. Mulheres e jogos sociais em Machado de Assis. Chasqui - Revista de Literatura Latinoamericana, v. 27, n. 1, p. 47-58, 1998. DOI: https://doi.org/10.2307/29741399.

PASSOS, G. P. Capitu e a mulher fatal: análise da presença francesa em Dom Casmurro. São Paulo: Nankin, 2003.

ROISMAN, H. Helen in the Iliad - Causa Belli and Victim of War: From Silent Weaver to Public Speaker. American Journal of Philology, Baltimore, MD, v. 127, n. 1, p. 1-36, 2006. DOI: https://doi.org/10.1353/ajp.2006.0018.

ROISMAN, H. Penelope’s Indignation. Transactions of the American Philological Association, Baltimore, MD, v. 117, p. 59-68, 1987. https://doi.org/10.2307/283959.

SAIS, L. A. Odisseia XIX: Penélope Anfitriã. Letras Clássicas, São Paulo, n. 15, p. 62-77, 2011. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2358-3150.v0i15p62-77.

SANTIAGO, S. Retórica da verossimilhança. In:______. Uma literatura nos trópicos: ensaios sobre a dependência cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 27-46.

SCHWARZ, R. A poesia envenenada de Dom Casmurro. Revista Novos Estudos, São Paulo, v.1, n. 29, p. 85-97, 1991.

WERNER, C. Memórias da Guerra de Troia: a performance do passado épico na Odisseia de Homero. Coimbra; São Paulo: Imprensa da Universidade de Coimbra; Annablume, 2018. DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-1502-8.

WERNER, C. O mito do retorno dos heróis de Troia e as funções narrativas dos presságios na Odisseia de Homero. História, Imagem e Narrativas, Rio de Janeiro, v. 12, p. 1-23, 2011.

ZEITLIN, F. Figuring fidelity in Homer’s Odyssey. In: COHEN, B. (org.) Distaff side: representing the female in Homer’s Odyssey. Oxford: Oxford University Press, 1995. p. 117-152.

ZILBERMAN, R. Memórias póstumas de Brás Cubas: diálogos com a tradição literária. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Coimbra, n. 1, p. 179-194, 1998.

Downloads

Publicado

2020-12-21

Como Citar

Monteiro, L. G. de C. . (2020). Recepção dos clássicos em Machado de Assis: ecos homéricos de Helena e Penélope na caracterização de Capitu. Nuntius Antiquus, 16(2), 87–110. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/22124

Edição

Seção

Artigos