A “fonte de Zeus”

lógos como fluxo erótico no Fedro de Platão

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Mots-clés :

discurso, eros, fluxo, Platão

Résumé

No Fedro de Platão, a figuração do discurso como uma espécie de fluido que emana da boca do emissor e penetra a alma do receptor é um tema cuidadosamente entremeado no texto através do que se pode chamar um “vocabulário do preenchimento”. Este designa um campo semântico que abarca noções relativas ao estado liquefeito (material ou metafórico) de determinados objetos, assim como os seus movimentos característicos, sobretudo o fluir para dentro e fora de recipientes – o preencher e o esvaziar. Este artigo percorre a primeira parte do diálogo, na qual se concentram as ocorrências do vocabulário, com dois objetivos: o primeiro, mais geral, é destrinchar o modo como este léxico constitui o tema do discurso-fluxo através da interação dinâmica de três principais empregos descritivos: (1) da paisagem em que o diálogo é ambientado, centrada no rio Ilisso; (2) do movimento do discurso como influência ou inspiração; e, (3), da relação entre o amante e o amado filosóficos como uma troca de fluxos de desejo e discurso. O segundo objetivo, mais específico, é usar esta divisão como percurso argumentativo a favor da interpretação de uma passagem obscura da palinódia como metáfora para a produção discursiva, a saber, de que aquilo que os amantes “extraem de Zeus” (ἐκ Διὸς ἀρύτωσιν, 253a6) e “entornam” (ἐπαντλοῦντες, a7) na alma dos amados é, com efeito, lógos.

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Publiée

2024-11-25

Numéro

Rubrique

Dossiê Comemorativo em Homenagem ao Prof. Jacyntho Lins Brandão

Comment citer

A “fonte de Zeus”: lógos como fluxo erótico no Fedro de Platão. (2024). Nuntius Antiquus, 20(2), 1–24. https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/53968