Uma ideia sem lugar
notas sobre a invenção do Brasil moderno em A máquina de madeira, de Miguel Sanches Neto
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.24.1.25-42Palavras-chave:
metaficção histórica, narrativa brasileira contemporânea, tecnologiaResumo
Este trabalho objetiva analisar o romance A máquina de madeira (2012), de Miguel Sanches Neto, numa perspectiva que o inclui no rol de “novo romance histórico brasileiro”. O livro resgata, via ficção, a história do padre Francisco João de Azevedo (1814 - 1880), inventor de uma máquina taquigráfica que teria servido de protótipo para o desenvolvimento da primeira máquina de escrever. A partir da constatação de que o Brasil do 2º Império possui uma fragilidade em suas estruturas políticas, econômicas, ideológicas e sociais, a despeito de a política oficial de D. Pedro II pregar o progresso e desenvolvimento da nação, verifica-se o espelhamento e a reverberação dessas fragilidades na contemporaneidade. Assim, pensar esse passado ajuda a lançar luzes sobre algumas mazelas do pensamento nacional que tendem a se perpetuar, ainda que sob novas roupagens. Paradoxalmente, constata-se que o lugar inexistente e as ideias sem lugar do século XIX caracterizam a reflexão crítica do pensamento brasileiro contemporâneo, portanto nossa existência.
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