Padrões culturais controversos em Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade
The Case of Amar, verbo intransitivo by Mário de Andrade
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.29.1.131-154Palavras-chave:
Mário de Andrade, Amar, verbo intransitivo, Nietzsche, modernismo, burguesiaResumo
Resumo: O presente artigo procura destacar a contribuição de Amar, verbo intransitivo para o projeto de compreensão da realidade brasileira de Mário de Andrade. Numa ótica que vai além da intentio específica da obra, a reflexão sugere se adoperar das Considerações Intempestivas de Nietzsche como chave hermenêutica para compreender uma faceta da sátira que se dirige à burguesia paulistana da época. O cotejamento de dois textos tão distantes ressalta o caráter medíocre da protagonista alemã, criando um paradoxo com a atitude reverencial que as demais personagens lhe tributam. Sob esse enfoque, o idílio se aproxima dos temas mais explorados pelo autor através da apresentação de um imaginário partilhado pela burguesia, onde domina a devoção acrítica às formas culturais estrangeiras em detrimento das brasileiras. Ressalta, assim, a imagem tragicômica de uma classe dirigente ridícula, mas consciente de seu poder.
Palavras-chave: Mário de Andrade; Amar, verbo intransitivo; Nietzsche; modernismo; burguesia.
Referências
ANDRADE, M. de. Amar, verbo intransitivo. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Villa Rica, 1995.
ANDRADE, M. de. Amar, verbo intranzitivo. São Paulo: Antonio Tisi, 1927.
ANDRADE, M. de. Aspectos da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002a.
ANDRADE, M. de. O turista aprendiz. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002b.
AVANCINI, J. A. Expressão plástica e consciência nacional na crítica de Mário de Andrade. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
CÂNDIDO, A. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.
CRUZ, B. L. Olhar, verbo expressionista: o expressionismo alemão no romance Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. Jundiaí: Paco Editorial, 2013.
DE PAULA, R. A. Fräulein passeando pela biblioteca de Mário de Andrade: leituras do expressionismo como matrizes em Amar, verbo intransitivo. In: SAGAWA, R. (org.). O amar de Mário de Andrade. Assis: FCL Publicações, 2010. p. 87-106.
FANINI, A. M. R. As construções discursivas do trabalho do imigrante em Amar, verbo intransitivo, um idílio, de Mário de Andrade. In: De volta ao futuro da língua portuguesa, Lecce, 2015, Atas do V SIMELP (Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa). Lecce: Università del Salento, 2017. p. 1893-1916. DOI: https://doi.org/10.1285/i9788883051272
FIGUEIREDO, P. Em busca do inespecífico: leitura de Amar, verbo intransitivo de Mário de Andrade. São Paulo: Nankin, 2001.
FRAGELLI, P. Engajamento e sacrifício: o pensamento estético de Mário de Andrade. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 57, p. 83-110, 2013. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i57p83-110
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.
GORENDER, J. A burguesia brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1990.
HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. 16. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.
LOPEZ, T. P. A. Mário de Andrade: ramais e caminho. São Paulo: Duas Cidades, 1972.
LOPEZ, T. P. A. Mariodeandradiando. São Paulo: Hucitec, 1996.
MINAES, I. P. O experimentalismo estético em Amar, verbo intransitivo. Revista de Letras, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 71-80, 1993.
NIETZSCHE, F. Considerações intempestivas. Tradução de Lemos de Azevedo. Lisboa: Presença, 1976.
NIETZSCHE, F. Die Geburt der Tragödie; Unzeitgemäße Betrachtungen I-IV; Nachgelassene Schriften 1870-1873. Hsg. v. Giorgio Colli und Mazzino Montinari. Berlin/New York: De Gruyter, 1980. (Kritische Studienausgaben in fünfzehn Bänden, Bd 1).
RAMOS, M. L. O latente manifesto. Ensaios de semiótica: cadernos de lingüística e teoria da literatura, Belo Horizonte, n. 2, p. 76-103, 1979. DOI: https://doi.org/10.17851/0101-3548.2.2.76-103
REIS, J. C. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
SAGAWA, R. A psicanálise desentranhada do amar intransitivo. In: SAGAWA, R. (org.). O amar de Mário de Andrade. Assis: FCL Publicações, 2010. p. 117-142.
SCHWARZ, R. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios de romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 1992.
SCHWARZ, R. Martinha versus Lucrécia: ensaios e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
WALLERSTEIN, I. The Modern World-System. San Diego: Academic Press, 1989.
WALLERSTEIN, I. World-System Analysis: an introduction. Durham/London: Duke University Press, 2004.
WOOD, E. M. The Origin of Capitalism. London; New York: Verso, 2017.