Teatralizações femininas. Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen

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Autores

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.29.3.56-74

Palavras-chave:

Sophia de Mello Breyner Andresen, Cecília Meireles, poesia brasileira, poesia portuguesa, tradução

Resumo

O objetivo desta reflexão é comparar as práticas de escrita de duas poetas, a saber, Sophia de Mello Breyner Andresen e Cecília Meireles, com as traduções que fizeram, respectivamente, de Hamlet, Shakespeare, em 1987, e Orlando, Virgínia Woolf, em 1948. A partir da análise dessas traduções, comparadas a alguns poemas de ambas as poetas, pretende-se desenvolver a afirmação de Giorgio Agamben (2007) de que o poeta moderno elabora sua subjetividade sem deixar que esta fique marcada por um “lugar” ao qual ela devesse “retornar” em nome de uma originalidade primordial de sua palavra lírica. O sujeito decorrente desse processo está livre para viver esse momento presente no qual ele se encontra com sua incompletude e compreende que é feito de uma angústia analisável. Contemplar a linguagem é o modo de produzir subjetividades não essenciais. A tradução é um dos modos mais eficientes de se pensar a palavra. Sendo operada por deslocamentos incessantes, a prática da tradução é um interrogar-se sem cessar – e angustiadamente – pelo sentido da materialidade mesma da estrutura da palavra sem alcançar o sentido pleno do que é traduzido. A tradução faz surgir de um ato objetivo uma potência subjetiva, pois de seu vazio de conteúdo pode ser dito algo de novo.

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Publicado

2024-04-23

Edição

Seção

Dossiê: Relações Brasil/Portugal