Delírios e deleites
leitura dos diálogos de Machado de Assis com John Milton em Memórias póstumas de Brás Cubas
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.30.4.95-119Palavras-chave:
Machado de Assis, Brás Cubas, dialogue, MiltonResumo
Os textos de Machado de Assis e principalmente seus romances estabelecem muitos diálogos com diferentes escritores e tradições. Entretanto, a forma que Machado de Assis escolheu para se referir ao poeta inglês do século XVII, John Milton, no seu romance, Memórias póstumas de Brás Cubas, merece uma atenção cuidadosa. Nesse romance, o autor brasileiro também se refere a Milton, mas não de maneira direta ou nomeada; ao contrário, as alusões a Milton são indiretas, criando uma composição textual com o poeta inglês e o convidando, de maneira ausente, a também fazer parte da narrativa. Machado de Assis, na elaboração dos delírios e deleites de Brás Cubas, reflete sobre seu ato de composição e estabelece diálogos também com o poeta inglês, como uma tentativa de proliferar sentidos da obra de Milton, mais especificamente Paradise Lost, no contexto literário brasileiro. Esses diálogos serão analisados com base na ideia de dialogismo de Mikhail Bakhtin (1973, p. 39) que é constitutivo da intertextualidade e desvia o foco das noções de autoria, causalidade e finalidade, e o “texto passa a ser visto como uma absorção de e uma resposta a um outro texto”. Assim, é pertinente dizer que Machado de Assis absorve elementos de composição do universo miltoniano e responde a eles nas Memórias póstumas de Brás Cubas, revivendo, em sua criação literária, suas experiências como leitor desse poeta inglês.
Referências
ANDRADE, Miriam Piedade Mansur. Machado de Assis e John Milton: diálogos pertinentes. 169 f. 2013. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1986. 3 v. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.
BAKHTIN, M. Problems of Dostoevsky’s Poetics. Tradução por R. W. Rotsel. Ann Arbor: Ardis, 1973.
BRANDÃO, R.; OLIVEIRA, J.. Machado de Assis leitor: uma viagem à roda de livros. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
COUTINHO, A. Machado de Assis na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1966.
COUTINHO, A. A filosofia de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi, 1940.
FERRY, A. Milton’s epic voice: the narrator in Paradise Lost. Chicago: The University of Chicago Press, 1983, p. 8.
GOMES, E. Influências inglesas em Machado de Assis. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1976.
KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. Tradução por Lúcia H. F. Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.
LEWALSKI, B. The life of John Milton: A Critical Biography. Williston, VT: Blackwell Publishers, 2001.
MACHADO, U. (Org). Machado de Assis: roteiro da consagração. Rio de Janeiro: UERJ, 2003.
MASSA, J. A biblioteca de Machado de Assis. Tradução por Claudia Maria de Almeida. In: JOBIM, J. A biblioteca de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras: Topbooks, 2001, p. 25-97.
MASSA, J. La Bibliothèque de Machado de Assis. In: Revista do Livro, v.1 n. 21-22, p. 195-238, mar./jun. 1961.
MEYER, A. Machado de Assis. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1952.
MILTON, J. John Milton: the major works. Edição deS. Orgel e J. Goldberg. Oxford: Oxford University Press, 1991.
MIRANDA, W.; SOUZA, E.. Perspectivas da literatura comparada no Brasil. In: CARVALHAL, Tânia Franco (Org.) Literatura comparada no mundo: questões de método. Porto Alegre, L&PM, 1997, p. 39-52.
PARKER, W. Milton: A Biography. 2 vols. 2nd ed. rev. Gordon Campbell, Ed. Oxford: Clarendon Press, 1996.
ROMERO, S. História da literatura brasileira. 5 ed. Organizada e prefaciada por Nelson Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, v. 5, p. 1617-1638.
SÁ, Luiz Fernando Ferreira; MANSUR, Miriam Piedade. Influência em “destinerrance”: Machado de Assis leitor de John Milton. O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, [S.l.], v. 16, p. 15-30, jun. 2008. ISSN 2358- 9787. Disponível em: . Acesso em: 10 jan 2021. doi:http://dx.doi. org/10.17851/2358-9787.16.0.15-30. SENNA, M. O olhar obliquo do Bruxo: ensaios em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
SOUZA, R. Introdução à poética da ironia. In: Revista Linha de Pesquisa, Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 27-48, out. 2000.