A aporia do trauma e a escrita da resistência

o passado que não passa em O corpo interminável, de Claudia Lage

Autores

  • Deyse Filgueiras Batista Marques Universidade Estadual do Maranhão
  • Renata Rocha Ribeiro Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.1.295-320

Palavras-chave:

narrativa de resistência, escrita do trauma, memória, ditadura militar brasileira, O corpo interminável

Resumo

Este trabalho é fruto da necessidade de refletir sobre os percursos narrativos ficcionais e de resistência em face do trauma e do esquecimento históricos relacionados à ditadura militar no Brasil. Esta apreciação tem como amostra a obra O corpo interminável (2019), de Claudia Lage, cujas personagens estão inseridas no âmbito da barbárie e da violência de Estado. Na tentativa de alcançar vivências que foram extorquidas pelo autoritarismo político, o romance apresenta a busca por vidas e histórias silenciadas em razão dos anos de barbárie impostos pela ditadura militar brasileira. Alternando vozes narrativas e tempos históricos, perpassa por O corpo interminável a noção de um passado que ainda se faz presente e que, mergulhado no sigilo e no esquecimento, permanece marcado por ausências, vazios, imprecisões, lacunas e memórias fraturadas. Propõe-se a mobilização da narrativa ficcional como instrumento de reconstrução dos destroços desse passado, na luta de evitar que as mesmas violações sejam repetidas no presente. O intuito desta leitura é contribuir para a caracterização política e estética do romance, pois, ao explorar as estratégias narrativas em O corpo interminável, espera-se discutir a relevância e a essencialidade da literatura brasileira contemporânea no processo de recuperação de um passado sombrio. Como base teórico-crítica, serão utilizadas as considerações de Dalcastagnè (2017), Figueiredo (2017), Ginzburg (2000 e 2017), Seligmann-Silva (2003, 2008 e 2016), entre outros.

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Publicado

2024-04-23

Edição

Seção

Sumário