“A língua também é um lugar de luta”

repertórios carolíneos para a contemporaneidade

Autores

  • Rosimeire Barboza da Silva Universidade de Coimbra
  • Lennita Oliveira Ruggi Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.2.305-330

Palavras-chave:

Carolina Maria de Jesus, repertórios de resistência, desumanização, feminismos decoloniais, literatura negra

Resumo

Propomos neste texto uma leitura decolonial feminista da obra de Carolina Maria de Jesus, enfatizando a forma peculiar que a autora encontrou para dar vazão à sua luta pessoal por reconhecimento, ao mesmo tempo em que formulava críticas a respeito da estrutura política e econômica, das desigualdades sociais e do racismo estruturante da sociedade brasileira. Os insights teóricos fornecidos por feministas marxistas, negras e decoloniais nos ajudam a apresentar repertórios de resistência da mulher racializada e empobrecida que resistiu como pôde às sucessivas investidas de desumanização: desde as tentativas de disciplinarização contra seu corpo negro, por meio do trabalho servil na infância, adolescência e início da idade adulta, até os lugares que queriam lhe impingir após o reconhecimento literário e ascensão social. Carolina resistiu ativa e corajosamente às imposições racistas, classistas e sexistas. Sua obra segue alimentando as lutas e renovando a esperança de comunidades epistêmicas ao redor do mundo.

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Publicado

2024-04-23