Diário de Bitita

os atravessamentos memorialísticos entre a escrita de si e perspectivas do feminismo negro decolonial em Carolina Maria de Jesus

Autores

  • Macksa Raquel Gomes Soares Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.4.63-80

Resumo

Este artigo é uma análise crítica literária da obra autobiográfica, Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus, (1986). Nele a autora remonta memórias de si para contar o social quando aciona reminiscências de infância e juventude num Brasil pós-escravatura, ao mesmo tempo que, sobrevive as agruras e interseccionaliza as relações raciais, de classe e gênero numa escrita que descoloniza os arcabouços e traz ao centro temas caros ao povo negro deste país. Nesse sentido, é importante assinalar que os estudos decoloniais e feministas propõem um novo modo de pensar as narrativas e relações de opressão, sobretudo, quando se refere ao gênero e a sexualidade, enquanto construção sociocultural. Desse modo, este artigo objetiva discutir e refletir sobre a escrita como reelaboração de memórias de si e atravessamentos ancestrais através do olhar da infância de Bitita, igualmente, coletiva-se, assim como refletir sobre o feminismo decolonial e as novas epistemologias proposta nesse sentido pela autora. Valendo-se da metodologia qualitativa de cunho bibliográfico na perspectiva da crítica literária interdisciplinar que versam sobre os temas aqui discutidos. Assim, este estudo está pautado em teorias que ajudam a pensar o texto enquanto memória coletiva e ancestral, Halbwachs (2006), Leda Martins (2003), Cristian Sales (2020) bem como sobre estudos feministas decoloniais aqui representados por María Lugones (2014), Ochy Curiel (2020), bell hooks (2019), Djamila Ribeiro (2019) e outras(os) que ajudam a refletir a narrativa caroliana.

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Publicado

2024-04-23

Edição

Seção

Dossiê: Literaturas negras brasileiras em discussão